Inevitável - Capitulo 46

Já era noite. Luiza estava consideravelmente melhor e falante. Conversara a tarde toda com o Felipe e com os pais, enquanto eu e Sophia ficamos quietos e pensativos. Agora, eu já estava querendo ir embora e não sabia o que dizer, pois queria que Sophia viesse comigo.

- Será que vocês deixam a gente conversar em particular? - Ela falou do nada olhando pra mim, e todos eles, incluindo Felipe, saíram. 

- O que foi? - Perguntei confuso, ainda do outro sofá.

- Eu que pergunto, você não pareceu nem um pouco feliz em me ver. Queria entender o que ta acontecendo. - Desviou o olhar e eu suspirei.

- O que aconteceu esse tempo todo? Pra onde você foi, com quem estava? - Eram as perguntas que estavam bagunçando a minha mente desde que ela chegou ali.

- Eu já disse que não quero falar sobre isso. - Ela não me encarou.

- Mas eu preciso saber disso. - Ela ainda não me encarava. - Luiza, eu passei meses sofrendo a sua morte, me culpando por ela. Eu tive que cuidar do nosso filho sozinho e machucado. Eu fiquei um caco.

- Não sumi por vontade própria. - Ela tinha lagrimas nos olhos e eu sabia que eu também teria logo, logo. 

- Então explica o que aconteceu. - Insisti.

- Não sei o que aconteceu. Não sei quem ele era, nem como conseguiu, mas quando eu acordei depois do acidente, estava em uma casa completamente desconhecida e no meio do nada. - Ela então deixou as lagrimas rolarem. - Um homem, ele se chamava de Tom pra mim, mas tenho certeza de que não era seu nome verdadeiro. Ele era a unica pessoa que tinha lá. Ele me disse assim que eu acordei que você e Felipe não tinham resistido e que ele tinha me salvado, no começo eu acreditei, mas quando eu melhorei, ele não deixou eu sair, me manteve presa e me obrigou a mantes relações com ele - Nessa parte ela corou - Eu não queria, mas ele não me dava escolha. Como eu fui ficando mais resistente ele começou a me maltratar, ele me torturava, me deixava sem comer ou beber água ate conseguir o que queria. - Eu estava desolado, minha esposa passando por tudo aquilo e eu a culpando por ter me deixado se não tivesse morrido. 

- Luiza, me desculpa. - Eu disse, não sabia mais o que dizer. 

- Você não teve culpa disso. - Ela se sentou e me chamou para um abraço. - Eu estava lá e só pensava em você. - Eu me sentei ao seu lado. 

- Luiza... - Eu a abracei, mas precisava falar da Sophia, só não sabia como.

- Quando ele me tocava, imaginar que era você tornava mais fácil. - Ela tentou me beijar, eu cedi, mas encerrei rápido.

- Como você saiu de lá? - Mudei de assunto rápido. 

- Ele simplesmente me deixou sair, acho que pensou que eu morreria no caminho, sinceramente não sei nem como cheguei aqui. - Ela riu e eu sorri. Ela quis me beijar mais uma vez, e eu dessa vez desviei. 

- O que aconteceu com você? - Ela perguntou confusa. 

- Luiza, se passaram quase quatro anos. - Comecei e ela pareceu entender na hora. - Eu meio que...

- Arrumou outra pessoa. - As lagrimas no rosto dela então caíram mais fortes. 

- Não fica assim. Eu juro que se soubesse que você estava passando por isso tudo teria ido atrás de você. - Tentei me justificar, mas ela ergueu a mão.

- Se passaram três anos, você seguiu sua vida. - Tentou secar as lagrimas. - Você não esta errado, me desculpa por pensar que...

- Luiza, mesmo com ela, eu sempre pensei que você. - Ela sorriu um pouco em meio as lagrimas, nós nunca nos esquecemos. 

- "Nós"? - Ela virou a cabeça um pouco para o lado. - Eu conheço? 

- Não acho que seja a hora ainda de você saber quem é? - Ela deu de ombros.

- Se ela cuida bem do Felipe e de você, deve ser uma boa pessoa. - Ela me abraçou e eu sorri, abraçado a minha Luiza que não era mais minha.