- Onde está Sophia? – Jorge perguntou quando abriu a porta e
Micael entrou com a cara mais amarrada do mundo.
- Em casa. – Foi só o que disse.
- Ela não pode estar em casa, vamos viajar amanhã cedo. –
Ele balançou a cabeça.
- Pede reembolso, a Sophia não vai mais. – Deu de ombros e
Jorge arregalou os olhos. Micael caminhou para a cozinha, onde viu sua mãe
colocando a mesa. Ela sorriu ao vê-lo.
- Oi, filho. – Micael se sentou à mesa antes mesmo de
responder. – Cadê a sua namorada?
- Micael, o que você fez pra Sophia? – Jorge chegou na
cozinha, já brigando com o filho. – Porque aqui ela parecia bem empolgada para
rever os pais.
- Eu não falei nada, tá legal?! – Suspirou. – E isso também
não é da sua conta.
- É claro que é da minha conta, eu sei o quão grosso você é
quando está com raiva. A Sophia não merece ouvir desaforo só porque quer
visitar os pais dela. – Jorge tinha a voz tão irritada quanto Micael.
- Ela que começou a brigar comigo quando chegamos em casa e
foi também ela que desistiu de ir, eu não a tranquei em casa se é o que você
quer saber. – Antônia olhava os dois com atenção. – A única coisa que eu fiz
foi perguntar a ela que saudade repentina é essa, já que não me falou nada.
- Saudade repentina? – Ergueu uma sobrancelha. – São os pais
dela, até onde eu sei a maioria sente saudade dos pais quando não os vê. A exceção
a essa regra é você, que não está nem ai.
- A Sophia nem fala dos pais dela. – Rolou os olhos. –
Parece quem nem existem, ai do nada, resolve viajar assim?!
- Você não está enxergando o quão egoísta está sendo. Você
nunca foi assim com ela, está bem mudado.
- Egoísta? – Ficou de pé. – Eu disse pra ela ir.
- Você fez a garota perder toda vontade de ir com o
turbilhão de coisas que deve ter falado pra ela. – Sentia raiva por Sophia. –
Você vai acabar perdendo a Sophia se não mudar as suas atitudes, Micael.
- Claro que não, a Sophia entende muito bem porque eu estou
desse jeito. A culpa é dela! – Se irritou e acabou gritando. – Será que dá pra
parar de me encher com esse assunto?
- A culpa é dela? – Debochou, após ignorar completamente o
pedido de Micael. – Que idiotice é essa?
- Eu confiava nela de olhos fechados, ela destruiu toda essa
confiança, então agora ela aguenta. – Antes que a resposta desaforada de Jorge
viesse, Antônia se manifestou.
- Jorge, será que você pode deixar eu conversar um pouco com
o Micael? – Ele não respondeu, pegou o celular e saiu dali bufando. Micael
voltou a se sentar e a mãe se sentou de frente pra ele.
- Vai brigar comigo também? – Ele disse com a voz bem mais
baixa e Antônia negou com a cabeça. – Falta só você pra completar.
- Eu não tenho muita propriedade pra falar, já que não
convivi com vocês antes que tudo acontecesse. – Micael escutava atentamente. –
Mas você não acha que agindo desse jeito, provavelmente vai acabar perdendo a
sua namorada.
- Eu não vou perder ninguém, mãe. – Rolou os olhos. – Ela devia
estar mais preocupada com isso do que eu, foi ela que me enganou por meses.
- Micael, o que é a insegurança senão o medo de perder quem
a gente ama? – Ele não respondeu. – A sua insegurança é normal, acontece depois
de uma traição. A impotência, achar que sua parceira está o tempo todo com
outra pessoa, que a qualquer momento vai fazer de novo. Isso tudo é normal
depois do que aconteceu, agora, se você realmente ama a Sophia e quer que dê
certo, você vai precisar se esforçar pra deixar todos esses sentimentos pra
trás.
- E você não acha que eu já tentei? Eu tento o tempo todo,
mas é só ela sair que a paranoia aparece e faz eu brigar com ela. – Abaixou a
cabeça na mesa. – Eu não sei o que fazer pra tudo ser normal de novo.
- Você precisa descobrir, porque não tem amor que resista a
isso. – Faz carinho na cabeça do filho que ainda estava abaixada. – A prisão
que você vai criar em torno da Sophia vai sufocar ela e tudo vai acabar, ai
você vai enxergar que estava exagerando, mas já vai ser tarde demais.
- Eu não consigo me controlar. – Resmungou. – Quando eu vejo
já estou falando coisas desagradáveis pra ela e jogando na cara dela que fui traído,
como se fosse desculpa pra ser grosso com ela.
- Meu amor, talvez vocês tenham reatado rápido demais, sem
dar o tempo que você precisava pra superar isso sozinho. Você precisa se entender
consigo mesmo, porque enquanto isso não acontecer, você vai seguir magoando a
Sophia e uma hora...
- Ela não vai me deixar. – Levantou a cabeça, seu olhar era
um tanto desesperado. – Ela não pode fazer isso. A gente mora junto tem um mês,
mãe. Ela não pode desistir da gente.
- Será que vocês não botaram a carroça na frente dos bois
com essa decisão de morar junto logo de cara? – Ele estava tão convicto de que
nada atrapalharia os dois quando a chamou pra morar com ele. – Vocês tinham que
ter voltado aos poucos, retomado a amizade primeiro, pra depois dar um passo
desse.
- Eu não sei mais o que fazer. – Suspirou. – Eu realmente
não sei. – Jorge saiu do quarto e passou perto deles, pegou a chave do carro e
ia saindo.
- Onde é que você vai? – Antônia ficou de pé. – A comida
está na mesa, vai ficar fria.
- Vou buscar a Sophia. – Micael se virou para o pai com uma
sobrancelha erguida. – Ela vai sim pra São Paulo amanhã.
- E por que ela ligou pra você e não pra mim? – Estava indignado.
- Porque você é um idiota quando quer. – Debochou. – Mas fui
eu que liguei pra ela e a convenci a ir, não é justo que a menina fique em casa
chorando ao invés de ir ver os pais só porque você foi ignorante. – Bateu a
porta da casa antes de ouvir a resposta de Micael.
Postar mais um pra compensar quinta e sábado 👏👏
ResponderExcluirContiuaa
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