Os dois estavam deitados no sofá assistindo a um filme quando ouviram o barulho da porta. Já passava das seis e os dois sabiam que Jorge tinha enrolado pra ir pra casa. O pai de Micael entrou em silêncio, não disse uma só palavra e entrou no pequeno apartamento. Embora fosse menor do que a casa de Micael, mas possuía dois quartos, Jorge tinha escolhido esse para que tivesse onde ficar quando viesse visitar o restaurante.
- Ninguém merece. – O moreno rolou os olhos. – Estava tudo
tão bom.
- Você sabia que ele ia chegar. – Encarou o namorado. – E que
quando chegasse...
- Eu sei Sophia, você fez lavagem cerebral em mim e já me
convenceu a pedir desculpa pra ele. – Bufou. – Não precisa repetir.
- Eu não fiz lavagem nenhum. – Micael tinha um sorriso de
canto. – Eu conversei com você e te fiz ver a razão. Agora vai lá e conversa
com seu pai, sem gritar.
- Sabe que isso é impossível. – Ficou de pé. – Eu vou entrar
naquele quarto e o meu pai já vai começar a gritar.
- Claro que não, seu pai é bem mais calmo que você.
- Mas você é muito puxa. – Balançou a cabeça. – Eu não sabia
que existia baba ovo desse jeito ai. Ele não tem razão de tudo não, dona
Sophia.
- Mas nessa situação, eu sei e você sabe que ele só brigou
com você porque você não foi sincero. E que você não devia ter dito a ele que
vai vender todos os restaurantes. Você sabe disso.
- Eu só disse isso porque está com raiva de todos os
desaforos. – Suspirou. – Chata. – Saiu de perto e caminhou para o quarto,
deixou Sophia sentada no sofá rindo. O moreno bateu três vezes na porta do quarto
do pai antes de vê-la se abrir.
- Não estou muito bem pra papo, Micael. – Já ia fechar novamente,
mas ele colocou a mão e impediu. – O que você quer? Mais brigas? Faltou dizer
algum desaforo na minha cara?
- Está agindo como se não tivesse dito nenhum desaforo pra
mim. – Cruzou os braços. – Tudo o que eu falei é facilmente justificado em cima
do que você me falou.
- Fala de uma vez o que você quer. – Não tinha nenhuma paciência.
– Eu achei que chegaria aqui e você já nem estaria mais. Demorei bastante pra
dar tempo de você comprar a sua passagem pro Rio e embarcar.
- Eu bem que tentei, mas a Sophia não deixou. – Disse no
mesmo tom debochado que Jorge. – Minhas malas estavam quase prontas.
- Boa noite, Micael. – Voltou a tentar bater a porta e ser
impedido pelo filho.
- Desculpa, tá legal?! – Disse sem vontade. – Eu não precisava
ter dito que venderia todos os restaurantes. Eu sei que é por isso que você
está assim.
- Eu estou assim por muitos motivos.
- Pai, você não sabe da missa metade do que acontece aqui,
foi injusto comigo de muitas formas e acabou me irritando. – Falou baixo. – Mas
eu não vou vender nada, você sabe muito bem que foi da boca pra fora.
- Eu não te obriguei a vir pra cá. – Jorge saiu da porta e
deu passagem a Micael. – Eu nem perguntei a você se queria vir, foi você que se
ofereceu e disse que queria. Você quis fugir da Sophia e se enfiou em mim. Não
pode ficar irritado porque eu vim cobrar algo que você deveria estar me
entregando diariamente.
- Eu sei de tudo isso. – Fechou a porta. – E é por isso que
eu estou aqui pedindo desculpas. Eu tenho algumas dificuldades com as planilhas
e contas. Não contei e foi por isso que você veio me acusando.
- Você tem algumas dificuldades? – Bufou. – Para de graça,
Micael.
- Eu estou falando sério. – Suspirou. – Eu não entendo como
essa droga funciona, eu não estudei pra isso, já passei muito tempo naquela
droga de sala tentando montar um relatório pra você, eu já sai de lá mais de
dez da noite pra cumprir todas as minhas tarefas. Só que eu realmente não consigo.
- E por que você não fala? Eu estou aqui pra isso, Micael.
Eu não coloquei você nessa posição só pra ficar cobrando e enchendo o seu saco,
eu estou aqui pra te orientar também. Liga, faz uma chamada de vídeo, sei lá.
Pede ajuda!
- Eu não quis admitir que não conseguia fazer certas coisa,
tá legal. – Ele não encarava o pai. – Eu sempre achei que ia dar meu jeito, mas
ai você chegou hoje me acusando como se eu não fizesse nada, como se eu não desse
mais do que cem por cento de mim, me irritou.
- Só que você se esqueceu que foi um idiota e que a culpa foi
sua que eu não sabia da sua dificuldade.
- Sim, é mais uma vez, eu vou repetir, me desculpa. – Jorge finalmente
relaxou os ombros. – Eu prometo que vou pedir ajuda quando precisar.
- Me desculpa por ser duro demais com você. – E então ele
encarou o pai. – Teria sido muito mais simples chegar e perguntar o motivo dos
atrasos. Eu perdi a razão quando cheguei sendo ignorante.
- Ainda bem que você sabe. – Brincou.
- Não seja marrento também, que você só está aqui pedindo
desculpa e admitindo seus erros por causa da Sophia. Caso contrário já estaria
no Rio sem nem pensar duas vezes.
- E foi por isso que você trouxe ela. – Ergueu uma
sobrancelha.
- Claro que não, eu a trouxe porque ela estava com saudades.
Não sei como te aguenta. – Fez uma careta. – Coitada, ainda quer casar com você.
Doida.
- Ah, pronto. – Rolou os olhos. – Já está bem humorado.
- Não, ainda não. – Se aproximou e colocou uma mão no ombro
do filho. – Eu vou voltar pro Rio e começar com algumas entrevistas pra colocar
alguém aqui no seu lugar, ou pedir a equipe do RH pra cuidar disso pra mim. Será
que você pode aguentar mais um mês?
- Posso. – Balançou a cabeça. – Obrigada, pai.
- Me peça ajuda no que você precisar, eu sou seu pai,
Micael. – Olhou em seus olhos. – Eu vou te ajudar, você não precisa se virar
pra aprender tudo sozinho.
ah que bom q se resolveram 😃❤️
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