Reviravolta - Capítulo 6

- Eu não tenho ninguém. - Abaixou a cabeça.
- Como não? - A duvida estava na minha cabeça - Não tem um amigo?

- Não moça, não tenho ninguém. - Levantou o olhar e me olhou nos olhos. - Por isso estou feliz de te ver aqui. Ninguém se importa comigo, nunca se importaram.
- Sophia! - Me olhou com duvida. - Meu nome é Sophia, pode me chamar assim!
- Ah, eu sou Micael. - Sorriu sem graça.
- Eu sei, procurei me informar. Você vive onde?
- Por ai, não tem muito onde ficar.
- Por que vive assim? Nunca pensou em estudar e ter o seu próprio lugar, uma vida digna? - Perguntei com a voz fina.
- Por que é difícil quando todo mundo a sua volta quer que você se ferre. - Falou com raiva.
- Ei, calma. - Disse tranquilizadora. - Eu quero te ajudar. Quantos anos você tem?
- 21 anos. - Disse com pesar.
- Eu tenho 19 anos. - Sorri pra ele.
- Logo se vê. - Sorriu de volta. - Ninguém mais velho faria o que você esta fazendo.
- E o que eu fiz de tão bom que ninguém faria? - Perguntei olhando nos olhos dele.
- Você está preocupada com um cara que tentou te roubar o celular! - Parecia não acreditar e também parecia ter vergonha do que tinha feito.
- Eu quero te ajudar. Me parece ser um bom rapaz, depois que tiver alta, você vai ter para onde ir?
- Não, vou ficar por ai.
- Me deixa te ajudar?! - Sorri amiga dela
- O que você ganha fazendo isso?
- Nada. Quero que você saia dessa vida. - Nós ficamos em silencio e rolou um clima quando nossos olhares se encontraram, eu senti que iamos nos beijar quando ouvi um pigarro vindo de tras de mim.
- Não queria incomodar, mas já deu a hora senhorita. - Um segurança dos que tinha me deixado entrar apareceu.
- Tudo bem, já vou indo. - disse ainda sem desviar o olhar do Micael - Amanhã eu volto. No horario de visitas a tarde. - Ele assentiu.
- Obrigada pela visita. - Fui abraçá-lo e dar um beijo no rosto, nós dois estavamos sem graça. Depois levantei e sai do hospital. Eu estava feliz, estranhamente feliz.
Cheguei em casa até que rapido demais e vi minha mãe e meu pai a minha espera na sala. Lua e Mel estavam ali também. Quando entrei todos ficaram me olhando como se eu estivesse louca.
- Que isso? Comitê de boas vindas? - Disse com sarcasmo.
- Sophia onde você estava esse tempo todo? - Meu pai disse com a voz grave.
- Por ai. - Dei de ombros.
- Não estava com aquele marginal de novo né? - Lua deu um passo a frente e falou.
- Não fala assim do Micael! - Apontei o dedo com autoridade.
- Sophia, é perigoso se envolver com bandido. - Minha mãe tinha a voz de suplica.
- Ele não é nenhum bandido, e sim, eu fui vê-lo. - Abaixei a mão - Queria saber se ele estava bem.
- Não quero saber de você perto desse rapaz! - Meu pai gritou - Nunca mais.
- Não? Ai pai, ele não fez nada demais.
- Sophia, ele tentou roubar seu celular. - Mel se intrometeu.
- Cala a boca sua fofoqueira. - Me olhou espantada - Eu achava que vocês duas eram minhas amigas.
- E nós somos. Por isso que a gente se preocupa com você fazendo besteira.
- Sei muito bem o que faço Lua. - Dei um fora.
- Sophia, para com isso. Você esta me surpreendendo. - Minha mãe disse rispida.
- Surpreendente é vocês dois estarem ai no mesmo ambiente sem brigar. - Disparei sem pensar. - Deve ser porque na unica vez que se uniram é pra brigar comigo né. Não sabem viver em paz, sempre tem que ter alguma briga nessa casa.
- Sophia, para filha. Estamos tentando por juízo na sua cabecinha. - ela disse, um pouco estremecida com a minha resposta.
- Eu tenho mais juízo que todos aqui nessa sala juntos. - sorri irônica - Micael só teve uma vida difícil. Não merece ser tratado assim. Eu quero ajudar.
- Filha, ele não é como um animal abandonado que você pega pra criar. - Minha mãe tentou argumentar - Uma pessoa é mais complicado.
- Nós temos tanto dinheiro, por que não podemos ajudar o rapaz? - Mudei pra defensiva - Ele me parece ser muito inteligente. Só não tem ajuda.
- Olha Sophia, não podemos botar esse rapaz aqui dentro de casa. - Foi a vez do meu pai falar.
- Eu me responsabilizo por ele, tomo conta dele. Pai, ele não tem pra onde ir. Se ficar na rua aí sim vai ser um marginal. - falei com a voz meio embargada por algumas lágrimas que ameaçavam cair.

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