Inevitável - Capitulo 31

O dia no trabalho foi meio entediante, todos os dias eram assim naquele lugar. A firma não era tão reconhecida quando a do meu pai e aparentemente estava com os dias contados. Não tive um só cliente o dia todo e então aproveitei para ficar pensando nessa vida confusa que ando levando, o que obviamente não deu muito certo então eu apenas fiquei me lembrando da manhã maravilhosa que tive com Sophia, ah, aquela menina sabe mexer comigo. Balancei a cabeça rindo.

A hora parecia se arrastar, mas finalmente estava acabado meu horário e eu podia ir pra casa. Ao sair da minha sala, tive a surpresa de ver meu pai praticamente gritando com a secretaria, ao me aproximar, pude ouvir que era pra entrar na minha sala.

- Você sabe ao menos com quem está falando sua secretariazinha? - Ele disse com um tom de desprezo, nunca tinha visto meu pai falar assim com ninguém. Ele estava nervoso e ela sem saber o que fazer.
- Pai? - Disse com pesar ao me aproximar um pouco mais, meio sem graça.
- Ah, ai está você! - Ele estava realmente com raiva.
- Me desculpe Dr. Micael, esse homem está muito alterado, por isso não o deixei passar. Só pedi que se acalmasse e então ele começou a gritar. - Ela parecia estar segurando as lagrimas, eu apenas dei de ombros.
- Processa ele por discriminação. Ao que parece ele merece, eu testemunho, ouvi ele te chamando de 'secretariazinha'. - Dito isto então eu passei direto e fui rumo ao elevador sem dizer nenhuma palavra mais para ele, que obviamente me seguiu até lá.
- Será que você pode falar comigo? - Ele pediu, sua voz um pouco brava ainda, mas nada comparado a antes.
- Eu simplesmente não tenho nada a dizer. - Dei de ombros e continuei sem nem olhar pra sua cara enquanto estávamos naquele cubículo de metal.
- Micael, você simplesmente se demitiu e veio trabalhar pro meu maior concorrente, depois disso não falou mais comigo. Você realmente acha que não temos nada o que conversar. - Sua voz agora completamente calma era um convite para uma briga inevitável que estava sendo adiada desde que sai de seu escritório.
- Estou indo pra casa. - Anunciei ao sair daquele elevador e ir para o meu carro. Pude notar que ao dar partida, meu pai deu atrás de mim. Beleza, agora ele vai até a minha casa. Encontrei a cabeça no volante, mas logo levantei, não podia sofrer outro acidente e deixar o Felipe órfão dos dois pais. O pensamento me fez estremecer.

Quando estacionei na minha garagem, meu pai estacionou atrás e ao entrar na casa ele também entrou. O olhar de surpresa de Sophia, que estava na sala com Felipe foi até engraçado. Ela não sabia o que falar. Se levantou e eu pude reparar que ela estava usando sua blusa de vereador e calca de moletom e isso me tirou um sorriso em meio ao estresse que estava por vir.

- Oi Dr. Borges. - Ela disse sem graça e pegou Felipe no colo. Olhei pro meu pai que respondeu com um aceno de cabeça, a deixando ainda mais sem graça.
- Sophia, pode nos dar licença por favor? - Falei com uma voz suave. Ela catou um brinquedo do meu filho do chão e então sumiu das nossas vistas pela escada.

- Não acredito que você está com a irmã da sua mulher! - Ele falou razoavelmente baixo pra que ela não escutasse e eu revirei os olhos.
- O que isso tem a ver com o que íamos discutir? - Perguntei ainda sem muito interesse em discutir isso. - E como sabe que estou com ela?
- A maneira como ela te olhou... - Sua voz era de clara indignação. Passei as mãos pelo cabelo e respirei fundo.
- Não era sobre isso que você queria falar. - Disse tentando me manter calmo.
- Não. - Pareceu pensar no que dizer a seguir, então o silencio durou alguns segundos. - Você tem que voltar pra minha firma. - Ele disse num tom parecido com suplica. - Não pode simplesmente sair e ir pra outra, é o negocio da nossa familia.
- Você não me deu escolha. - Dei de ombros e me sentei no sofá, ele mais uma vez imitou o gesto. - Brigou comigo porque tive que levar meu filho de volta pra casa dos avós. Seu neto e você não se preocupa nem um pouco. - Levantei a voz na ultima frase, ele pareceu se assustar.
- Claro que me preocupo, sabe que eu amo vocês dois. - Seus olhos pareciam bem sinceros e um pouco chateados por eu estar duvidando daquilo.
- Pai, eu não estou a fim de voltar pra sua firma e ser um escravo lá. Estou bem onde estou. Tenho um horário bacana e um chefe que compreende as necessidades de ter um filho sem mãe.
- Mas não é sua familia, não é sua empresa e nem nunca vai ser. Eu e seu irmão precisamos de você. Eu prometo ser flexível em relação ao meu neto também. Não vou ser como era, mas precisamos de você.
- Tudo bem pai, vou pensar, ok? Não garanto nada, mas vou pensar. - Disse esperando dar um fim aquela conversa e ele então se levantou, parecia minimamente satisfeito.
- Espero que tome a decisão correta. - Ele colocou uma mão em meu ombro e me puxou para um abraço, então disse em meu ouvido, bem baixo. - Sem querer me meter, mas não se envolva com a sua cunhada. - Largou essa e caminhou pela porta pra ir embora, eu fiquei ali no sofá, mais uma vez pensando sobre a vida.

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