- É... você não ligou num bom momento. – Falou sem graça,
ouviu um grunhido da mulher ao telefone.
- Eu ouvi ele dizendo que não quer falar comigo. – Ela
conseguia sentir a decepção na voz da sogra. – Avise a ele por favor, que eu
vou voltar ao Brasil, e que irei visita-lo. – Desligou sem que Sophia pudesse
dizer nada.
- Eu disse que era sua mãe. – Jorge quebrou o silêncio. –
Não tem tanta gente assim fora do Brasil querendo falar com você.
- Querendo falar comigo não, porque até ontem nem ela
queria! – Andava de um lado pro outro. – O que ela queria?
- Ela disse que está vindo pro Brasil e que vem visitar você. – Sophia deu de ombros e se sentou no sofá. – Mas também não disse nada
sobre datas.
- E ela por um acaso sabe onde que eu moro? – Cruzou os
braços. – Quem essa mulher está achando que é pra surgir do nada assim e achar
que tem direito de falar comigo.
- Micael, querendo ou não, ela é a sua mãe. – Jorge tinha o
tom de voz baixo. – Pode ser a desnaturada que for, mas pariu você.
- Única coisa que ela fez mesmo. – Bufou. – Porque na hora
de me abandonar pra fugir com macho rico por ai ela não pensou duas vezes. –
Jorge fez uma careta, era notável de longe que ele ainda gostava de Antônia.
- Ela não fugiu, nós estávamos separados e ela se casou
novamente com um gringo. Não foi uma fuga. – Micael manteve a cara fechada e
encarou o pai. – Não me olha assim, não fui eu que dei seu número a ela.
- Você está defendendo demais essa mulher, pai, ela sumiu
por quinze anos. – Falava alto. – Não é possível que passou esse tempo todo e
você segue gostando dela.
- Micael, deixa o seu pai em paz, vocês acabaram de ficar
bem e se continuar falando desse jeito, vão brigar de novo. – Sophia tentou
intervir. – Se ele gosta ou não da sua mãe, é problema dele.
- Eu quero ver se ela voltar aqui com o rabo entre as
pernas, cara de arrependida e pedir mil perdões pra você, se você vai perdoar. –
Ignorou o que Sophia tinha dito. – Ai vai ser ótimo que seremos uma puta família
feliz de novo, não é mesmo?
- Micael, você está perdendo a razão, chega! – Sophia disse
alto e Micael respirou fundo. – Por favor, para de ser cruel com o seu pai. –
Ele encarou a namorada e respirou fundo algumas vezes.
- Me desculpa, pai. – Ele falou consideravelmente mais
baixo, Jorge ficou de pé e deu de ombros.
- Eu vou pra casa. – Comunicou ao casal. – Espero você as
dez e meia no restaurante amanhã. Tchau Soph. – Deu um beijo na testa da nora
antes de caminha para a porta, Sophia correu até ele.
- Não fica chateado com ele. – Pediu ao sogro que já estava
do lado de fora do portão. – Dessa vez eu tenho certeza que ele não falou por
mal.
- Está tudo bem! – Forçou o sorriso e Sophia observou o
sogro entrar no carro. Trancou o portão e caminhou pra dentro, fechou a porta
com o pé e viu o namorado ainda no sofá, em silêncio, um tanto quanto
pensativo.
- Pegou pesado. – Foi só o que disse e caminhou para o
quarto, procurando uma roupa para vestir após o banho. Quando saiu do banheiro,
Micael entrou para tomar banho também. Ela se deitou na cama e trocou algumas
mensagens com Mel, perguntando se poderia ir à casa dela no dia seguinte. – Já está
mais calmo? – Perguntou quando Micael saiu do banheiro e se deitou na cama, ao lado
dela.
- Não sei. – Suspirou. – Eu realmente não sei.
- Vem cá. – Ela puxou o namorado pro colo e o abraçou,
depois ficou fazendo cafuné. – Me desculpa por ter brigado com você, mas você
foi estupidamente grosseiro com o seu pai.
- Eu sei. – Ele tinha os olhos fechados aproveitando o
carinho. – Amanhã eu vou pedir desculpas de novo, mas é que é tão surreal essa
mulher aparecendo depois de quinze anos.
- Essa mulher, querendo ou não, é a sua mãe. – Sophia falava
bem baixo, não queria comprar uma guerra com Micael por causa de Antônia.
- Você reclama tanto da sua mãe porque ela te trata como uma
criancinha, mas na verdade eu ficaria bem feliz se eu tivesse tido a minha mãe
sempre comigo. – Ainda não tinha aberto os olhos. – Eu sempre me fiz de forte,
mas sempre me doeu muito não ter a minha mãe por perto nas datas especiais, ela
não teve coragem de ligar uma vez se quer. Ela não tem moral pra aparecer agora
e dizer que quer falar comigo, ela já perdeu muito tempo e já se foi há anos a
vontade que eu tinha de falar com ela.
- Amor, você não quer nem dar chance dela explicar as
coisas? – Se afastou pra encarar a loira. – Explicar porque sumiu... Sei lá,
vai que tem alguma explicação.
- Não existe explicação nenhuma pra isso, ela foi irresponsável,
ela abandonou eu e o meu pai e não ligou pra saber se a gente estava vivo. –
Balançou a cabeça. – Não quero saber dessa mulher e vou pedir a você pra por
favor não defende-la.
- Eu não vou me meter nessa história. – Prometeu. – Só vou
pedir pra você não ser grosso com seu pai. – Micael rolou os olhos. – Da pra
ver de longe que ele gosta dela independente dos anos. Ele nunca superou e você
precisa ser compreensível.
- Compreensível? – Sophia assentiu. – Ele devia ter mais
raiva dela do que eu! Ele foi traído por ela, ela nos abandonou! – Falou alto.
- Na sala ele disse que eles já estavam separados. – Cruzou os
braços e Micael bufou. – E você tinha dez anos, não tem como saber disso!
- Eles terminaram, ai semanas depois ela conheceu um gringo
e viajou com ele? Isso não existe, eles deviam ter um caso há muito tempo, isso
sim!
- Micael, você está julgando sem saber! – Repreendeu. – Isso
não é legal.
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