Amor Demais - Capítulo 87

A casa dos meus pais, a casa em que morei até meus dezesseis anos não era exatamente longe. Era relativamente para o mesmo lado da casa de Antônia, só que bem mais longe.

Tinha que ser perto, já que eu e Micael estudamos sempre na mesma escola. Quer dizer, nem sempre, meus pais uma vez aos meus quinze anos tentaram me transferir de escola, eles até conseguiram, mas eu fiz greve de fome e quase morri, então eles me voltaram pra antiga escola.
Já tínhamos passado da casa de Antônia e olhar aquele caminho tão familiar era absurdamente nostálgico. As ruas pareciam iguais, tinha tanto tempo que eu não passava por aqui. Até os buracos de anos atrás pareciam intactos. Assim que Micael parou o carro em frente á enorme casa me deu medo de entrar. Eu desci do carro e fiquei olhando aquela casa. Eu tinha passado tantos ótimos momentos ali e péssimos momentos também, era tão estranho voltar.
Olhei para o céu e estava super nublado, cairia uma chuva daquelas mais tarde. Micael se posicionou ao meu lado, com um braço em volta de mim e Laura veio para o outro lado e segurou minha mão. Nós caminhamos atrás de minha mãe até dentro da casa. Eu sabia que Laura estava maravilhada, aquela casa era linda e grande demais.
- Você morava aqui mãe? – Perguntou baixinho.
- Sim, amor. – Sorri pra ela. – Onde meu pai está? – Olhei pra minha mãe e ela olhou pro alto da escada.
- No quarto. Pode ir lá, ele vai gostar de ter ver. – Ela estranhamente sorriu pra mim. Eu encarei Micael e ele assentiu pra mim.
- Vai amor, nós esperamos você aqui. – Me deu um beijo na testa e eu então fui andando rumo às escadas. Passei em frente a porta do meu quarto e minha curiosidade foi forte e eu resolvi abrir a porta. Meu quarto parecia estar intacto. A mesma roupa de cama, a mesma cortina, meus livros na prateleira. Aproximei-me e abri o armário, algumas peças de roupa que eu não tinha conseguido levar, alguns sapatos, papeis. Minha mãe tinha guardado tudo. Limpei as lágrimas chatas e fui atrás do quarto dos meus pais. Bati na porta e ouvi um “entra” baixinho.
Quando entrei, os olhos do meu pai se arregalaram. Eu sorri em meio as lagrimas.
- Sophia! – Ele disse em seu tom fraco.
- O senhor está bem? – Logico que não estava. Meu pai estava deitado com uma cara péssima. Estava fisicamente acabado, muito magro e com olheiras fundas.
- Estou com certeza melhor do que eu estava há uns dias atrás. – Seu sorriso de adoração não saia do rosto em nenhum momento.
- Minha mãe disse que o senhor está com câncer. – Falar as palavras doíam. – Acha que vai conseguir se recuperar? – Me aproximei e sentei em sua cama.
- Eu queria muito saber também filha, mas do jeito que estou indo, provavelmente não. – Sua voz sussurrada estava me deixando ainda mais nervosa.
- Mas pai, o senhor pode pagar o tratamento. Faz ele, o senhor está novo! – Eu estava desesperada, não queria perder meu pai.
- Posso pagar algumas coisas do tratamento. Não estamos tão bem financeiramente quanto essa casa demonstra. Eu não quero gastar todo o dinheiro e depois morrer, deixando sua mãe sozinha.
- Pai, o senhor não vai morrer. – Ele sorriu e logo depois tossiu fraca.
- Eu estou feliz em ter te visto antes de partir. – Ele segurou minha mão e eu chorei ainda mais.
- Deixe de falar besteiras, não vou deixar o senhor morrer, não agora! – Disse firme e ele apenas sorriu pra mim.
- Oi, Laura. – Minha sogra se aproximou de Laura e ela recuou. – Fala comigo, por favor.
- Você acha mesmo que depois de tudo que ela viu de você, vai querer falar com você? – Perguntei incrédulo.
- Ela é minha neta, Micael. – Ela não tinha o tom irritante dessa vez.
- Neta essa que você nunca fez questão de conhecer. – Ataquei e ela me encarou.
- Eu estava brigada com a Sophia, você sabe muito bem disso! – ô Mulherzinha nojenta.
- Pelo amor de Deus Branca, a gente sabe que você realmente nunca se importou.
- Claro que eu me importei, eu amo a Sophia, ela é a minha única filha. – E ela começou a chorar. Ver aquela mulher chorar era um pouco assustador.
- Única filha que você expulsou de casa com uma mala de roupa e pertences pessoais. Você nunca se perguntou se ela estava passando fome ou qualquer coisa do tipo. Sophia foi atrás de você gravida e você não se importou. – Já estava ficando com raiva.
- Eu tive os meus motivos, vocês não podem me julgar por isso pra sempre.
- Claro que podemos. – Foi a ultima coisa que disse e me sentei no sofá com Laura. Aquela mulher saiu em direção a outro cômodo da sala.
- Papai, não acha que está sendo muito duro com a minha vó? – Laura perguntou inocente e eu suspirei.
- Não, não acho.
- Ela pode ter se arrependido de tudo o que fez... – Minha pequena mulher sorriu.
- Não acho que ela seja capaz de tal coisa. – Dei de ombros.
- Não acha que as pessoas mudam? – Eu a encarei.
- Laura você tem sete anos, acho que precisa parar de falar como uma adulta.
- Sabe que eu faço oito no mês que vem. – Colocou as mãos na cintura e me fez rir.
- Eu sei, dez dias depois de mim. – Rolei os olhos. – Nem decidimos o que vamos fazer dessa vez.
- Nada de festa, prefiro sair. – Eu ri.
- Você é louca, época de natal é uma droga pra sair. – Ela rolou os olhos.
- A gente pode ir em janeiro então. – Sorriu esperançosa.
- Depois que o problema com o seu avô passar, a gente combina com a sua mãe. – Ela deu pulinhos de alegria e eu a abracei.

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