Medo de Amar - Capitulo 182

 Os dois estavam deitados no sofá assistindo a um filme quando ouviram o barulho da porta. Já passava das seis e os dois sabiam que Jorge tinha enrolado pra ir pra casa. O pai de Micael entrou em silêncio, não disse uma só palavra e entrou no pequeno apartamento. Embora fosse menor do que a casa de Micael, mas possuía dois quartos, Jorge tinha escolhido esse para que tivesse onde ficar quando viesse visitar o restaurante.

- Ninguém merece. – O moreno rolou os olhos. – Estava tudo tão bom.

- Você sabia que ele ia chegar. – Encarou o namorado. – E que quando chegasse...

- Eu sei Sophia, você fez lavagem cerebral em mim e já me convenceu a pedir desculpa pra ele. – Bufou. – Não precisa repetir.

- Eu não fiz lavagem nenhum. – Micael tinha um sorriso de canto. – Eu conversei com você e te fiz ver a razão. Agora vai lá e conversa com seu pai, sem gritar.

- Sabe que isso é impossível. – Ficou de pé. – Eu vou entrar naquele quarto e o meu pai já vai começar a gritar.

- Claro que não, seu pai é bem mais calmo que você.

- Mas você é muito puxa. – Balançou a cabeça. – Eu não sabia que existia baba ovo desse jeito ai. Ele não tem razão de tudo não, dona Sophia.

- Mas nessa situação, eu sei e você sabe que ele só brigou com você porque você não foi sincero. E que você não devia ter dito a ele que vai vender todos os restaurantes. Você sabe disso.

- Eu só disse isso porque está com raiva de todos os desaforos. – Suspirou. – Chata. – Saiu de perto e caminhou para o quarto, deixou Sophia sentada no sofá rindo. O moreno bateu três vezes na porta do quarto do pai antes de vê-la se abrir.

- Não estou muito bem pra papo, Micael. – Já ia fechar novamente, mas ele colocou a mão e impediu. – O que você quer? Mais brigas? Faltou dizer algum desaforo na minha cara?

- Está agindo como se não tivesse dito nenhum desaforo pra mim. – Cruzou os braços. – Tudo o que eu falei é facilmente justificado em cima do que você me falou.

- Fala de uma vez o que você quer. – Não tinha nenhuma paciência. – Eu achei que chegaria aqui e você já nem estaria mais. Demorei bastante pra dar tempo de você comprar a sua passagem pro Rio e embarcar.

- Eu bem que tentei, mas a Sophia não deixou. – Disse no mesmo tom debochado que Jorge. – Minhas malas estavam quase prontas.

- Boa noite, Micael. – Voltou a tentar bater a porta e ser impedido pelo filho.

- Desculpa, tá legal?! – Disse sem vontade. – Eu não precisava ter dito que venderia todos os restaurantes. Eu sei que é por isso que você está assim.

- Eu estou assim por muitos motivos.

- Pai, você não sabe da missa metade do que acontece aqui, foi injusto comigo de muitas formas e acabou me irritando. – Falou baixo. – Mas eu não vou vender nada, você sabe muito bem que foi da boca pra fora.

- Eu não te obriguei a vir pra cá. – Jorge saiu da porta e deu passagem a Micael. – Eu nem perguntei a você se queria vir, foi você que se ofereceu e disse que queria. Você quis fugir da Sophia e se enfiou em mim. Não pode ficar irritado porque eu vim cobrar algo que você deveria estar me entregando diariamente.

- Eu sei de tudo isso. – Fechou a porta. – E é por isso que eu estou aqui pedindo desculpas. Eu tenho algumas dificuldades com as planilhas e contas. Não contei e foi por isso que você veio me acusando.

- Você tem algumas dificuldades? – Bufou. – Para de graça, Micael.

- Eu estou falando sério. – Suspirou. – Eu não entendo como essa droga funciona, eu não estudei pra isso, já passei muito tempo naquela droga de sala tentando montar um relatório pra você, eu já sai de lá mais de dez da noite pra cumprir todas as minhas tarefas. Só que eu realmente não consigo.

- E por que você não fala? Eu estou aqui pra isso, Micael. Eu não coloquei você nessa posição só pra ficar cobrando e enchendo o seu saco, eu estou aqui pra te orientar também. Liga, faz uma chamada de vídeo, sei lá. Pede ajuda!

- Eu não quis admitir que não conseguia fazer certas coisa, tá legal. – Ele não encarava o pai. – Eu sempre achei que ia dar meu jeito, mas ai você chegou hoje me acusando como se eu não fizesse nada, como se eu não desse mais do que cem por cento de mim, me irritou.

- Só que você se esqueceu que foi um idiota e que a culpa foi sua que eu não sabia da sua dificuldade.

- Sim, é mais uma vez, eu vou repetir, me desculpa. – Jorge finalmente relaxou os ombros. – Eu prometo que vou pedir ajuda quando precisar.

- Me desculpa por ser duro demais com você. – E então ele encarou o pai. – Teria sido muito mais simples chegar e perguntar o motivo dos atrasos. Eu perdi a razão quando cheguei sendo ignorante.

- Ainda bem que você sabe. – Brincou.

- Não seja marrento também, que você só está aqui pedindo desculpa e admitindo seus erros por causa da Sophia. Caso contrário já estaria no Rio sem nem pensar duas vezes.

- E foi por isso que você trouxe ela. – Ergueu uma sobrancelha.

- Claro que não, eu a trouxe porque ela estava com saudades. Não sei como te aguenta. – Fez uma careta. – Coitada, ainda quer casar com você. Doida.

- Ah, pronto. – Rolou os olhos. – Já está bem humorado.

- Não, ainda não. – Se aproximou e colocou uma mão no ombro do filho. – Eu vou voltar pro Rio e começar com algumas entrevistas pra colocar alguém aqui no seu lugar, ou pedir a equipe do RH pra cuidar disso pra mim. Será que você pode aguentar mais um mês?

- Posso. – Balançou a cabeça. – Obrigada, pai.

- Me peça ajuda no que você precisar, eu sou seu pai, Micael. – Olhou em seus olhos. – Eu vou te ajudar, você não precisa se virar pra aprender tudo sozinho.

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