Medo de Amar - Capitulo 190

 - Como assim seu filho? – Sophia levou alguns instantes pra se acostumar com a ideia. Tinha os olhos fixos na fotografia, reconhecendo traços de Micael na criança. – O Micael tem um irmão e você não contou nada?

- Anthony tem onze anos. – Ela tinha um sorriso no rosto ao falar do menino. – É muito esperto e carinhoso. Amo demais o meu menino e é por ele que eu não posso ficar aqui, entende?

- Por que você não trouxe ele? – Ainda estava se recuperando do choque.

- Joseph nunca daria permissão, assim como Jorge não deu pra eu levar o Micael. – Deu de ombros. – Eu estava disposta a entrar numa briga judicial por ele, sabe? – Soph assentiu. – Mas ele me disse que não queria vir comigo. – Foi a hora que as lágrimas apertaram. – Ele disse que preferia ficar com o pai, com seus amigos, com sua escola. Ele disse que a vida dele era lá. Agora você vê, um menino de onze anos.

- Meu Deus, Antônia. – Estava perplexa ainda. – Por que você nunca contou nada disso?

- Quando eu cheguei, eu não quis começar dando munição pro Micael dizer que eu abandonei outro filho. Eu não queria ser julgada por isso e ainda mais com a doença, tudo o que eu queria era fazer as pazes com ele. Não contei nem ao Jorge.

- Mas e depois?

- Eu nunca soube como contar isso, pensei que eles iam ficar com raiva de mim por conta disso e fui adiando.

- Então o Joseph te liga pra falar disso?

- Que liga é o Anthony. – Sorriu novamente. – Joseph não dá um telefone pro menino, diz que é muito novo, ai ele me liga do dele. – Segurou nas mãos de Sophia de novo. – A questão é, não importa que eu ame o Jorge, eu não vou poder ficar aqui, vai chegar uma hora que eu vou ter que voltar pra cuidar do meu filho. Micael já é um homem, vai casar com você, daqui a pouco vocês tem seus próprios filhos. – Sophia fez uma leve careta – Eu não quero me dar o luxo de cometer o mesmo erro duas vezes, entende?

- É claro que entendo, mas Antônia, você precisa conversar com eles. Vão entender e te apoiar, não é possível que vão fazer você escolher entre seu filho criança e eles.

- E eu vou começar esse assunto como? – Suspirou. – “Oi, gente. Eu tenho um filho e escondi de vocês esse tempo todo.” – Debochou um pouco.

- Talvez com menos deboche. – Ela soltou uma risada. – Olha, eu só acho que você não devia deixar os dois achando que você é uma ingrata e tals. Eles merecem saber.

- Dar conselho é muito mais fácil do que seguir, Sophia. – A loira desviou o olhar se lembrando das palavras de Lua sobre o desejo de não ter filhos. – Falar é sempre muito mais fácil.

- Eu sei. – Suspirou. – E como sei.

- Está acontecendo alguma coisa? – Perguntou desconfiada. – Sua expressão mudou de repente.

- Talvez. – Pensou de deveria ou não confiar na mãe de Micael, mas precisava desabafar com alguém mais velho e infelizmente sua mãe estava a quilômetros de distância. – Se eu contar uma coisa, você promete que não vai contar pro Micael?

- Chega fico com medo quando começa a falar assim. – Ela tinha rugas de preocupação na testa. – Está escondendo algo grave? O que você fez?

- Não tenho um amante, se é do que tá desconfiando. – Rolou os olhos pra sogra. – Preciso que prometa.

- Tudo bem, eu não vou contar, você parece agoniada. – Sophia assentiu várias vezes. – Fala, filha.

- Eu não sei se quero ter filhos. – Falou bem rápido. – Pelo menos não agora, talvez um dia.

- E isso é uma coisa muito horrível? – Ergueu uma sobrancelha sem entender. – Pode ser conversado, não precisa fazer essa cara.

- Eu tenho medo de abrir o jogo com o Micael e ele desistir de casar comigo. – Agora a mulher mais velha se espantou. – Ele é louco pra ser pai, e se essa vontade for maior do que o amor que ele tem por mim?

- Se for o caso, não é melhor saber logo ao invés de depois que tiver casada? – Ergueu uma sobrancelha. – Só vai ter mais burocracia pra separar.

- Nossa, Antônia. – Ficou de pé. – Quanto apoio! – Arrancou risadas da mulher que a pouco estava chorando.

- Eu acho que se você chegar e conversar com ele sobre isso ele vai entender de boa. – Deu de ombros. – “Olha, Micael, eu não quero filhos agora por conta disso, disso e disso. A gente pode conversar sobre o assunto novamente daqui a um tempo.” – Sophia olhou com atenção. – Ele faz tudo o que você quer, duvido que não vai entender esse seu desejo.

- Realmente dar conselhos é mais fácil do que seguir. – Ela voltou a se sentar e riu. – Nós duas praticamente nos demos o mesmo conselho, ir lá e falar a verdade.

- Pois é, talvez seja o certo a se fazer mesmo. – Antônia concordou. – Mas é complicado.

- Eu vou sentar pra conversar com ele depois do casamento. – Cruzou os dedos. – Eu juro. Quando a gente voltar da Lua de Mel eu vou abrir o jogo e conversar.

- Eu vou cobrar hein. – Disse rindo, mas logo se calou. – Eu vou falar antes de voltar.

- Você devia falar de uma vez. – As duas ficaram de pé. – Eu sei que vai adorar dar uns beijinhos no Jorge de novo. – A jovem senhora ficou completamente sem graça. – Ah, para! Não precisa ficar sem graça, dá pra ver na cara de vocês.

- Eu não sei nem como puxar o assunto. – Balançou a cabeça.

- Eu ajudo você. – Estendeu a mão e Antônia a segurou. As duas começaram a caminhar de volta pra sala e ouviram a campainha tocar. Chegaram a tempo de ver a porta se abrir, uma fração de segundo se passou e Anthony estava abraçado a Antônia.

- Eu estava com saudades, mãe. – O menino disse alto e o olhar da mulher foi logo pra Micael que estava parado com os olhos arregalados, sem entender absolutamente nada.

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