Depois do Para Sempre - Capitulo 8

 Micael foi pra casa naquele dia e não tentou entrar em contato com Sophia, precisava pensar. E foi o que fez bastante. Refletiu sobre esses anos casados e as evasivas de Sophia quando o assunto era terem um filho. Percebeu que só não tinha enxergado a falta de vontade nela por idiotice.

Teria uma grande decisão a tomar, ser pai é seu sonho desde que se entende por gente, sempre havia amado crianças, mas seu amor por Sophia era tamanho. O que realmente faria se tivesse que escolher entre filhos e sua esposa?

Pensar que caminhou até ali, superou tantos e tantos obstáculos pra conseguir se casar com Sophia, pra conseguir manter aquele casamento apesar de todas as viagens dela. Pra no final acabar desse jeito, porque os dois tem ideias diferentes sobre a paternidade.

Passou o restante da tarde pensativo, olhando sua aliança que ainda não tinha posto de volta no dedo. Quando a noite caiu e o celular alertou informando chamada de Sophia, ele não atendeu. Ainda não tinha decidido o que fazer, não tinha o que falar com ela. Não saberia disfarçar e não queria falar sobre aquilo por telefone.

Ele se desligou do telefone pelos dias que vieram, não atendia os amigos, não atendia a esposa e ninguém que ligasse. Queria ficar só e só ficaria. No trabalho também não trocava muitas palavras com ninguém. Tinha sido uma longa semana.

Pouco mais de uma semana que tinha descoberto sobre a farsa da esposa, numa quinta-feira à noite, deitado no sofá com a televisão ligada em algo que não fazia questão de ver, ouviu a campainha tocar.

Pensou mil vezes se devia ou não atender, e acabou optando por não, mas a pessoa insistiu tanto que ele desistiu e se levantou pra abrir a porta. Vestia somente uma bermuda e não estava com a cara muito boa.

- Que isso? – Perguntou assim que viu os amigos na porta. – Comitiva na minha casa? Tá tendo festa?

- Você sumiu, estamos todos preocupados. – Ele bufou e saiu da porta, de volta para o sofá. Os amigos entraram e o ultimo fechou a porta.

- Não dá pra mandar uma mensagem? – Ergueu uma sobrancelha.

- Se você as respondesse! – Lua tinha o mesmo tom debochado.

- Deixa eu te explicar, Lua. – Sentou na beirada do sofá. – Quando uma pessoa não atende o celular e não responde as mensagens, é porque não quer assunto. Não adianta vir na minha casa em bando. Quero ficar sozinho, é difícil assim?

- Sophia está morrendo de preocupação, você não fala nem com ela.

- Ela é a última pessoa do mundo que eu quero falar agora, Lua. – Bufou. – Eu só tirei um tempo pra mim, sem ninguém no meu ouvido dizendo o que eu tenho ou não tenho que fazer. Só. Eu não morri, eu não estou doente, eu não estou deprimido, só preciso pensar, será que posso?

- Não precisa tratar a gente mal. – Mel pediu. – Viemos até aqui por preocupação.

- Agradeço muito, mas na hora que vocês tinham que se preocupar comigo e contar a verdade, todo mundo escondeu e ficou do lado de Sophia, agora eu não estou é nem ai pra essa preocupação.

- Larga de ser ignorante. – Arthur falou grosso. – A gente contou, não contou?

- Não, vocês não contaram. – Ficou de pé, de frente para os amigos. – Douglas contou. A última pessoa que entrou no grupo, uma pessoa que nunca foi meu amigo, porque vocês, amigos de anos, iam me deixar ser enganado até sabe-se lá quando eu descobrisse. Por que eu não mexo na bolsa de Sophia, como eu ia descobrir que ela tinha uma cartela de remédio ali?

- Não foi assim que aconteceu. – Lua se defendeu. – Eu estava dividida entre falar ou não.

- Não tinha que ficar dividida com nada, Lua. – Se irritou. – Existe o certo e o errado, não tem meio termo. Você já me fodeu acobertando a mentirosa da Sophia uma vez, ai agora você ia fazer tudo de novo.

- Eu não acho justo você ficar com raiva da gente. – Arthur se intrometeu. – Sophia meteu a gente nessa furada.

- Pelo amor de Deus, vocês iam fazer eu perder a minha juventude ao lado de uma pessoa que vocês sabiam que nunca ia me dar um filho. Eu amo a Sophia e talvez nunca deixe de amar, mas o que eu vou fazer se nós não temos os mesmos planos? – Não tiveram tempo de responder, ouviram o barulho da maçaneta abrindo e Sophia apareceu no campo de visão de todos.

- Ué, está tendo festa aqui em casa? – Falou como Micael, logo seus olhos pararam nele. – Por que está todo mundo com essa cara de enterro?

- Está fazendo o que aqui? – Micael era seco. – Você disse que seriam duas semanas, ainda não completou. Nunca te vi chegar antes do previsto em casa.

- Por que está falando dessa forma? – Franziu a testa. Largou a mala no meio da sala e caminhou pra ficar de frente ao marido. – Eu voltei antes porque você sumiu, fiquei preocupada.

- A gente vai embora pra que vocês possam conversar em paz. – Lua anunciou. Nenhum dos dois falou nada, só balançaram a cabeça, só quando ouviu a porta bater é que Sophia se pronunciou.

- Cadê sua aliança? – Franziu a testa. – Você nunca tira.

- Pois é, tirei. – Suspirou. – Guardei dentro da minha mala. – Cruzou os braços.

- Mala? – Olhou em volta procurando algo. – Você fez mala? Vai viajar também?

- Sophia, vamos jogar limpo um com o outro, por favor. – Juntou as mãos como se estivesse pronto pra rezar. – Uma vez na sua vida, fala a verdade sobre as coisas.

- Ei! – Se fez de ofendida. – Você está muito grosso comigo hoje.

- Eu ainda nem falei nada, estou aqui te dando a chance de confessar. – Falou novamente. – Confessa de uma vez.

- Você virou padre pra eu ficar me confessando? – Foi grossa e ele revirou os olhos. – Não sei do que você está falando.

- Estou falando sobre o nosso filho. – A expressão de culpa apareceu instantaneamente em seu rosto. – Pra quando ele vem? Será que nunca ou jamais? – Debochou.

- Quem te contou? – Se sentou no sofá com as mãos no rosto, não conseguia encarar.

- Importa? – Deu de ombros. – O que importa realmente é que você não contou, inventou um monte de histórias até aqui e agora depois de anos esperando você mente pra mim e continua tomando remédio.

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