Depois do Para Sempre - Capitulo 40

 - Palhaçada. – Bufou. – Eles não sabem que a gente já conversou?

- Também não é pra tanto, a gente não falou nada, você me expulsou de casa e ficou por isso mesmo!

- Eu não te expulsei de casa, eu pedi a você que saísse, gentilmente.

- Gentilmente até demais pra mim, preferia que fosse gritando, porque ai eu ia saber que foi na hora da raiva e não de caso pensado. – Deu de ombros.

- Foi pensado, foi uma decisão muito pensada, que bom que reparou! – Se virou para a esposa pela primeira vez e a olhou nos olhos. – Se fosse há uns anos eu tinha pegado minhas coisas e ido embora, mas agora tem a minha filha, eu não vou tirar ela do conforto dela por causa de você.

- Nossa filha. – Corrigiu. – Eu que botei no mundo, se você não se lembra.

- Quem costuma esquecer é você, não eu. – Ela se ajeitou no sofá.

- Amor, isso é realmente sério? Você vai terminar comigo por causa que eu não cheguei e nem foi culpa minha!

- Foi culpa sua. – Ele parecia nem piscar. – Você deveria ter se programado para imprevistos como eu disse pra fazer, você podia ao menos ter carregado o celular, como qualquer pessoa normal, ligado pra sua filha e falado com ela ontem. Ela ia ficar triste, mas acho que não tanto. Muita coisa podia ter sido evitada.

- Eu sei que errei, tá legal? Eu não estou fugindo das consequências. Eu assumo, mas amor... – Colocou uma das mãos no rosto de Micael que por um instante vacilou e pensou em desistir de tudo, mas se desistisse, Sophia tomaria jeito? Será que ela não merecia levar um gelo?

- Mas amor nada! – Tirou a mão dela de seu rosto quando decidiu que ela merecia mais uns dias de sofrimento. – A nossa vida sempre foi assim, Sophia. Você errando, você pedindo desculpas e eu perdoando pra ficar bem, sempre!

- Nem todas as vezes foi por causa de mim. – Cruzou os braços emburrada como uma criança mimada.

- Ah, não. – Balançou a cabeça. – Você não vai desenterrar os meses que eu estava um ciumento possessivo não, porque querendo ou não, a culpa foi sua também.

- Você não vai jogar isso na minha cara depois de anos.

- Eu não estou jogando absolutamente nada na sua cara. – Desviou o olhar. – Eu estou apenas citando fatos. A gente já terminou quinhentas vezes e todas as vezes foi porque você fez alguma coisa. Pelo amor de Deus, eu só quero que você admita que é egoísta e só pensa no seu umbigo.

- Não sou egoísta. – Disse ainda de bico. – Não do jeito que você está falando.

- Tá bom, isso pouco me importa! – Voltou a falar baixo. – Você faz o que quiser da sua vida agora.

- Não, eu não faço.

- Você sempre fez, não seja ridícula. – Se irritou novamente. – Eu não sou o tipo de homem que bota limites em ninguém e sabe por quê? – Ela ficou em silêncio. – Porque eu acho que você mesmo tem que se limitar, você tem que ter noção do que está bom e do que não está. E pra mim está ruim faz tempo. – Estalou os dedos.

- Você também podia ter falado comigo sobre isso. – Descruzou os braços. – Eu podia ter diminuído o número de viagens já que isso é algo que estava te incomodando.

- Você se faz de sonsa, não é possível. – Soltou uma risada debochada.

- Ei, não é pra me xingar não.

- Ah, Sophia, pelo amor de Deus. – Levantou do sofá, claramente indignado. – Você se faz de besta, como você tem coragem de dizer na minha cara que eu tinha que ter dito que estava me incomodando, sendo que eu sempre achei que você passava tempo demais longe, sendo que eu fui contra você desmamar a nossa filha aos seis meses por causa de uma viagem pra Itália? Pra mim você está se fazendo de inocente e não cola.

- Eu já pedi desculpas, não sei mais o que quer que eu faça. – Ficou de pé, em frente a ele. – Só quero que fiquemos bem.

- Estamos ótimos, você aqui, ou seja lá onde for e eu em casa com a minha filha.

- Vai levar isso a diante mesmo? Eu prometo que vou melhorar.

- Eu quero que você pense antes de fazer as coisas que podem me magoar ou magoar a Mirella. Eu não quero que você faça o que der na telha e venha pedir desculpas depois da merda feita achando que eu tenho obrigação de desculpar tudo. Eu não tenho, Sophia.

- Micael... – Fez uma pausa dramática. – Você está tão decidido assim por quê? – Olhou no fundo dos olhos do marido. – Conheceu outra pessoa enquanto estive fora? É isso?

- Conheci muita gente enquanto você esteve fora, afinal, você esteve bastante fora, não é mesmo.

- Ei, o que você está me dizendo? – Micael rolou os olhos sem muita paciência.

- Não tenta inverter o jogo não, por favor. – Bufou. – Vou buscar a Mirella pra ir pra casa.

- Se não quer mais nada comigo, porque ainda está de aliança? – Perguntou quando ele se virou, o rapaz automaticamente olhou a mão esquerda.

- Boa pergunta. – Tirou o anel do dedo e entregou a esposa. – Faça bom uso dela. – Saiu pra cozinha pra buscar a menina que naquele momento estava suja de chantilly amarelo até a testa. – Vamos pra casa?!

- Vamos! – Disse empolgada. – Vamos levar bolo? Tá muito gostoso, papai.

- Eu sei que tá, a senhorita já falou dez vezes! – Deu um sorriso fraco e em seguida olhou pra Lua. – Já está tudo separado?

- Sim. – Olhou as caixas a frente. – A gente ajuda a colocar no carro.

- Não precisa. – Colocou uma caixa em cima da outra. Eu levo de uma vez. – Pegou as caixas. – Vamos, filha. – Saíram da cozinha e não viram Sophia na sala. A menina nem lembrou de perguntar pela mãe e logo os dois estavam indo pra casa.

 

 

- A conversa não foi boa? – Lua procurou Sophia pela casa e a encontrou no banheiro, sentada no vaso, olhando a aliança.

- Ele me entregou a aliança. – Mostrou a amiga. – Eu acho que não foi boa.

- Só está fazendo drama pra você se sentir culpada.

- Acho que teria sido melhor se vocês não tivessem saído da sala. – Deu de ombros. – Foi uma conversa dolorosa, ele jogou coisas na minha cara.

- Foi doloroso porque ele estava certo? – Sophia assentiu, com lagrimas novamente. – Não precisa ficar assim, reconhecer já é o primeiro passo.

- Ele disse que eu já faço as merdas esperando pedir desculpas porque eu sei que ele vai me perdoar. – Ignorou Lua. – E eu percebi que faço muito isso, Lua. Eu já venho pensando no pedido de desculpas, na explicação... Eu nunca tento evitar que dê merda.

- Vai ficar se martirizando com isso agora? – Lua estava abaixada perto da loira.

- E não é pra fazer isso? – Deixou de encarar a aliança. – Eu não tenho alguém pra jogar a culpa, é minha.

- Ah, eu tenho medo de quando você começa a se culpar demais.

- Relaxa que eu não vou me jogar na frente de um carro. – Passou as costas da mão na bochecha na tentativa de secar. – Eu tenho uma filha pra criar, embora eu seja ausente pra ela.

- O mínimo de juízo pelo menos agora tem. – Soltou um risinho. – E sabe o que vai fazer então?

- Começar indo falar com a Beth. – Lua fez uma careta quase que instantânea. – Preciso marcar o último desfile da minha carreira.

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