- Eu duvido que ela não
tenha ficado com você. – Ele sentou na beirada da cama. – Não vem querer me
enganar.
- Sophia ficou comigo no
dia do exame do DNA, quando você foi embora. Só. – Micael não conseguia
acreditar, eles viviam juntos. – Ela não consegue esquecer você, ela diz que
não vai mais ligar, que vai seguir em frente, mas ai não dá dois minutos e ela
já está pensando em você de novo.
- Por que você está me
falando essas coisas? – Estava confuso, aquela era a primeira vez que realmente
conversava com Douglas, que o ouvia. – A essa altura do campeonato!
- Eu sempre ri quando a
Sophia dizia que te amava, sabia? – Micael fez uma careta. – Eu pedia a ela pra
terminar com você e ficar comigo, e ela respondia “você tá louco, eu amo o
Micael.” Como isso é possível?
- Eu não sei. – Deu de
ombros. – Eu acho que se ela me amasse tanto quanto diz, não teria feito isso.
- Ela só foi burra e
imatura. – Continuou defendendo. – Sophia definhou nos últimos meses, pelo amor
de Deus, ela se jogou na frente de um carro quando viu você com outra pessoa! –
Rolou os olhos. – Eu queria que ela gostasse de mim metade do que gosta de
você, e eu ficava feliz.
- Vou repetir a pergunta,
por que tudo isso agora? – Douglas encarou Micael.
- Eu achei, por um segundo,
que com a perda do bebê eu poderia ficar com ela, quem sabe até dar um filho
pra ela. – A careta de Micael foi instantânea. – Mas a verdade é que ela nunca
vai querer isso, e eu a amo, quero vê-la feliz. – Ele tirou o telefone da
mulher do bolso. – Eu peguei o celular dela pra avisar você. Douglas botou a
senha e logo o papel de parede foi exibido, uma foto dos dois. Ele virou a tela
pra Micael.
- Isso não muda nada. – Uma
onda repentina de sofrimento lhe alcançou ao ver aquela foto, em que os dois
sorriam felizes e apaixonados um para o outro. – Isso é só uma foto.
- Não para por ai, seu
contato tem o nome de “Vida”, e foi salvo recentemente, já que você mudou de
número duas vezes, não é mesmo? – Ele assentiu. – A Sophia não vai te esquecer,
eu não tenho chance, nunca tive. Essa é a verdade.
Micael deu de ombros, não
sabia o que dizer. Estava tudo tão bagunçado na sua vida, tudo uma verdadeira
zona e agora seu bebezinho que nem tivera tido a chance de nascer, já havia
partido. Ele colocou uma mão na barriga de Sophia, sentia diferença agora
estava macia.
- Você avisou a mais
alguém? – Micael perguntou depois de algum tempo em silêncio.
- Não. – Mais silêncio. –
Eu achei que ela não ia precisar do quarto cheio de gente quando recebesse essa
notícia. Achei melhor avisar a Lua e os amigos de vocês depois.
- Fez bem. – Douglas
assentiu e a conversa ficou por isso mesmo. Até que... – Obrigado... – Douglas
franziu a testa sem entender. Não esperava nunca na vida que receberia um
agradecimento de Micael. – Obrigado por ajuda-la e por tentar ajudar o bebê.
- Eu faria tudo de novo. –
E essa foi então a última conversa que teve no quarto.
Micael se sentou na
poltrona no lado oposto ao de Douglas que seguia no banco e assim os dois
ficaram pelo que restava da tarde e início da noite. Pouco depois das oito,
Douglas foi fazer um lanche. Quando voltou, Micael saiu.
O silêncio no quarto era
até que confortável aos dois. O celular de Micael completamente descarregado,
assim como o de Douglas, de tanto que ficou jogando pra passar o tédio. Pouco
mais de uma da manhã, Sophia se remexeu. Os dois, ainda acordados, a olharam
imediatamente.
- Me solta. – Sophia falou.
Estava tendo um pesadelo? Delirando? Ou eram apenas lembranças?
- Sophia. – Micael chegou
mais perto e ela abriu seus olhos azuis encarando-o. Abriu um sorriso pra ele.
Estava claramente dopada ainda. – Você está bem? – Ela balançou a cabeça, não
conseguia pensar direito. – O que aconteceu com você?
- Fernanda... – Não
conseguia se lembrar, talvez pela quantidade de remédio em seu sangue. –
Empurrada contra... parede... – Era difícil até de falar.
- Descansa. – Micael pediu.
– Tenta dormir que quando você acordar, vai estar melhor. – Ela não respondeu,
apenas se recostou nos travesseiros fofos e fechou novamente os olhos. Douglas
e Micael se entreolharam. – O que será que ela quis dizer com isso?
- Será que a Fernanda fez
alguma coisa? – Ele cogitou, mas em seguida balançou a cabeça. – Não, eu
duvido. Eu a conheço a tantos anos, ela não seria capaz de machucar a Sophia.
- Se essa maluca fez alguma
coisa que resultou no aborto da Sophia, eu mato ela. – Estava com raiva antes
de saber o que tinha acontecido. – Ela não tinha esse direito.
- Ela estava com ciúme de
você dois! – Insistia em defender. – Pode ter ido conversar e Sophia está tendo
flash’s, ou pode nem ter ido, a Sophia está drogada, lembra?
- Você tem razão. –
Respirou fundo e olhou pra Sophia novamente. – Fica com ela, por favor?!
- Como assim? – Manteve a
testa franzia. – Onde você vai? A Sophia vai precisar de você quando acordar.
- Eu preciso tirar essa
história a limpo. – Dessa vez ele falava baixo. – Eu não vou ter sossego se não
for.
- E quando ela acordar. –
Cruzou os braços. – Ela vai estar desolada e vai precisar de você aqui. A
Fernanda pode esperar. Você vai acabar sabendo o que aconteceu pela Sophia,
quando ela acordar.
- Você tem razão novamente.
– Voltou para seu sofá e ficou pensativo. Não conseguiu pregar os olhos aquela
madrugada. Ao contrário de Douglas, que dormia de boca aberta, no banco. Dessa
vez ele não se deu ao trabalho de ficar acordado velando Sophia, sabia que
Micael faria aquilo.
Quando os primeiros raios
de sol entraram pelas cortinas do hospital, Douglas acordou. Coçou os olhos se
acostumou com a claridade, bocejou, em seguida ficou de pé, estava moído.
Sophia seguia dormindo, confortável.
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