Medo de Amar - Capitulo 60


- Eu estou um caco. – Ele falou enquanto se espreguiçava. – Sophia tem que parar de vir pra hospital.

- Não acredito que terão outras vezes. – Micael deu de ombros, não desgrudava os olhos de Sophia e sua respiração calma.

- Vou buscar um café, você quer? – Ele olhou desconfiado, com uma sobrancelha arqueada. – Que foi? Eu não vou botar veneno não.

- Tudo bem. – Douglas assentiu e saiu do quarto rumo a cafeteria.

Micael ficou de pé e se aproximou da cama, fez carinho nos cabelos de Sophia novamente. Observou a mulher forçar os olhos e logo em seguida abri-los. Não demorou a se acostumar com a claridade, se ajeitou na cama. Sentia sua boca seca.

- Micael? – Ela focou no homem a sua frente. Ele tinha a expressão triste, não sabia como dar a ela aquela triste notícia. – O que você está fazendo aqui...? – Perguntou, mas em seguida olhou o quarto branco e toda a tarde passada veio como um flash em sua cabeça. Seus olhos se encheram de lagrimas e suas mãos pousaram na barriga, agora sem o mínimo relevo. – O meu bebê. – O fluxo de lagrimas aumentou mesmo antes que ele falasse qualquer coisa.

- Ele não resistiu... – Foi só o que disse, não tinha chorado antes, mas agora vendo o estado emocional em que Sophia se encontrava, não resistiu e chorou junto com ela. – Ele foi forte. – Colocou a mão em cima da dela. – Mas não deu.

- Eu não acredito que perdi o meu bebê. – Ela resmungava. – Era tão novinho. Era a Malu...

- Ei, fica calma. – Ele usou a mão livre pra secar o seu próprio rosto. – Você é jovem, linda e saudável. Vai engravidar de novo. – Sophia mal conseguia enxergar por baixo de tantas lagrimas.

- Não de você. – Foi o que respondeu e Micael desviou o olhar dela.

- O que foi que aconteceu? – Sabia que não era o momento, mas precisava daquela resposta. – Eu deixei você bem de manhã, você disse que ia chamar o Douglas pra te fazer companhia e ai tudo isso aconteceu, eu não entendo.

- Fernanda apareceu no meu apartamento. – Disse o nome com o máximo de rancor possível. Micael prendeu a respiração. – Eu não lembro de tê-la convidado, mas ela entrou. Me disse um monte de coisas, me deu um monte de ordens.

- Como assim? – Franziu a testa.

- Me disse pra ficar longe de você, proibir você de ir lá pra casa. – Fez força pra lembrar dos detalhes. – Disse que tinham voltado e que não era pra atrapalhar. Ela me empurrou contra parede e eu senti uma dor forte quase que na mesma hora. Pedi a ela que me ajudasse.

- E ai? – Ele custava a acreditar, sua raiva aumentava a cada segundo.

- Ela disse “Se vira.” – Sophia contava aquilo com pesar. Tinha tanto ódio da mulher, que assim que a visse, ela com certeza mataria aquela infeliz de porrada. – E foi embora.

- Eu vou matar ela. – Rangeu os dentes e Sophia arregalou os olhos. – Ela não tinha esse direito.

- Você deu a ela esse direito quando voltou com ela. – Disse entredentes e Micael ficou mudo, só queria seu bebê de volta. – Cadê o pessoal?

- Douglas não os avisou, nós achamos melhor falar com você antes. – Sophia franziu a testa, nunca tinha visto Micael falar de Douglas sem raiva na voz. – Não queríamos encher o quarto antes de te dar a notícia.

- Engraçado você falando do Douglas como se tivesse conversado decentemente. – Ela sorriu em meio as lagrimas, Micael deu de ombros.

- Não é como se fôssemos amigos, mas trocamos algumas palavras sobre você enquanto dormia. – Ela olhou ainda mais surpresa. – Que foi? Ele tentou ajudar vocês dois, eu precisei agradecer.

- Estou chocada com a sua maturidade, Borges. – Ela se ajeitou um pouco mais na cama. Ele não teve tempo de responder, Douglas passou pela porta com um copinho de café e o entregou a Micael. – Eu estou em algum universo paralelo, com toda certeza.

- Que bom que está acordada! – Douglas ignorou o comentário de Sophia, se aproximou e lhe deu um beijo na testa. – Como está se sentindo?

- Fisicamente ou emocionalmente? – Não demorou a voltar a chorar, não seria muito diferente disso naqueles primeiros dias. – Péssima nos dois. – Eles se olhavam, Micael se sentiu muito incomodado ali naquele quarto.

- Sua mãe ligou pra você. – Os dois arregalaram os olhos e deixaram o rapaz sem entender. – Seu telefone ainda tinha um pouco de bateria, ele tocou e eu atendi.

- Você não contou pra ela que eu estou aqui, contou? – Sophia ergueu uma sobrancelha.

- Contei ué, é a sua mãe! – Ele realmente não via mal nisso. – Você até ia chama-la pra ficar com você.

- E não chamei por um motivo. – Encarou o rapaz. – Minha mãe é insuportável. Ela age como se eu tivesse quatro anos e não soubesse fazer nada!

- Boa sorte com isso. – Micael fez uma careta. – Você vai precisar.

- Gente, ela não pode ser assim tão ruim. – Ele prendeu o riso. – Não é possível.

- Pois é, se tem uma coisa que ela é, é impossível. – Micael bufou depois olhou Douglas. – Cuida dela por favor, eu preciso resolver umas coisas.

- Resolver umas coisas? – Sophia ficou brava. – Você vai atrás daquela vagabunda!

- Ei, relaxa. – Pediu, fazendo de tudo pra manter a calma.

- Relaxa nada. – Sentou-se imediatamente. – Aquela mulher matou o nosso bebê, ai você vai me deixar aqui pra ir atrás dela?! Você é inacreditável.

- Ela é minha namorada ainda. – Tentava manter toda a fachada de calmo, mas fervilhava por dentro. – Eu tenho que resolver as coisas com ela. – Sophia arremessou o travesseiro nele. – Se acalma, por favor. – Jogou o travesseiro de volta na cama, assentiu para Douglas e saiu rumo ao estacionamento do hospital.

- Eu não estou acreditando numa coisa dessas! – Resmungou e viu o ex-amante rir. – Do que inferno você está rindo?!

- Vai brigar comigo também? – Ele arrumou o travesseiro atrás de Sophia. – Você está dando esse chilique ai por que?

- E você precisa de motivo? – Se deitou, com as mãos na barriga. – O meu bebê morreu, ele devia ficar comigo e não ir atrás daquela bruaca. Certeza que foi agradecer por ela ter se livrado do meu filho. 

- Para de falar besteira. – Tentou secar o rosto da loira mais era impossível. – Micael passou a noite toda transtornado porque você balbuciou algumas palavras, incluindo o nome da Fernanda. Ele quis sair daqui de madrugada, eu não deixei por que você ia precisar dele aqui quando acordasse, ele concordou em esperar.

- O que você quer dizer com isso?

- Quero dizer que ele não deve ter ido atrás dela comemorar nada, palhaça. – Tocou seu nariz. – Se ele a esganar vai ser pouco, ele estava muito revoltado. Fez toda essa ceninha aqui porque ele gosta de implicar com você.

- E você pelo visto está sabendo demais, não é? – Cruzou seus braços.

- Foi uma noite tão longa, meu amor. – Ele sorriu. – Deu pra perceber muita coisa.

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