- Você quer que eu vá
embora? – Franziu a testa. – É isso? Acabou tudo então? O que nem começou...
- Não quero acabar com
nada! – Se apressou a falar. – Eu só quero que você pense. Eu sei que eu mereço
que jogue isso na minha cara o resto da vida, mas não é saudável numa relação.
E você realmente tem que pensar se quer ter uma relação comigo de novo.
- Ei!
- O quê? – Sophia parecia
outra após a perda do bebê. – Você tem que ter certeza disso, pra não fazer nós
dois sofrermos ainda mais. – Ele bufou, com raiva pelas coisas que Sophia disse
e por ela o ter mandado embora. Saiu do quarto e nem disse tchau antes de sair
do apartamento.
Sophia amarrou os cabelos
com um elástico antes de ir para o banho. O momento antes era pra acariciar e
conversar com seu bebê. Agora, era triste e solitário, não queria pensar muito
nisso. Vestiu um pijama e deitou debaixo do edredom. Por um tempo tinha até
esquecido que sua mãe estava no apartamento. Se lembrou ao vê-la entrar com um
copo de achocolatado no quarto.
- Fiz um achocolatado
quentinho pra você, meu bem. – Ela sorriu ao se sentar na cama ao lado da
filha. – Imaginei que estivesse sem fome.
- Obrigada, mãe. – Deitou a
cabeça no colo da mãe, precisava daquilo. – É bom você estar aqui comigo.
- Eu sempre estou com você,
meu amor! – Começou um cafuné. – Não importa o que aconteça. – Ficaram em
silêncio. – A conversa com o Micael não foi boa? – Quebrou o gelo.
- Não, ele foi embora com
raiva porque me viu abraçando Douglas. – Sophia tinha os olhos fechados. – Eu
sei como isso tudo deve ser difícil pra ele, mas mãe, eu sei que eu errei, não
faria nada daquilo de novo, só eu sei o que eu sofri com essa separação.
- É compreensível a raiva
dele. – Branca defendeu Micael e Sophia ficou surpresa. – Você o traiu, Soph.
Confiança não se conquista da noite pro dia.
- E por causa disso ele vai
poder jogar na minha cara o tempo todo? – Rangeu os dentes. – Talvez esse namoro
não tenha mais jeito mesmo.
- Para com isso. Vocês se
amam. – Surpreendeu Sophia novamente. – Você se lembra de quando se conheceram?
- Claro que sim...
FLASHBACK SOPHIA
- Sophia você amassou meu carro! – Liz, amiga de Sophia da época que
morava em São Paulo reclamou ao sair do veículo. – Quebrou a seta,
misericórdia, não dá pra te ensinar a dirigir. Nunca tire carteira.
- Para de drama, eu posso pagar o conserto dessa lampadazinha ai. –
Rolou os olhos. – Não precisa brigar comigo.
- E a pintura do meu carro, quem paga? – Micael apareceu por trás das
duas mulheres. Ele tinha sua dólmã na mão e a cara nem um pouco boa. – Você não
sabe dirigir? Comprou sua carteira onde?
- Ei, quem você pensa que é pra falar assim comigo? – Os dois se
encararam por segundos, e isso bastou para acalmarem os ânimos. Ela era linda e
tinha fascinado Micael. Assim como ela também não conseguia tirar os olhos dos
dele.
- Eu sou, Micael. – Tinha a voz um pouco mais baixa. – E você bateu no
meu carro. – Apontou para o Audi prata, estacionado quase ao lado. – Eu nem sei
como você conseguiu fazer uma coisa dessa!
- Eu estou aprendendo a dirigir. – Sophia desviou os olhos para a
amiga. Ela precisava conseguir o telefone dele de algum jeito. – Se deixar seu
número, eu posso pagar pela pintura. – Ele entregou um cartão, não queria que
ela pagasse, mas queria que ligasse para que pudesse salvar seu número. Ela
encarou o papel quadrado por bastante tempo. – Micael Borges, chef?
- Uhum. – Ele sorriu, agora bem mais simpático. – Daqui. – Apontou para
o restaurante que estavam no estacionamento. Ergueu a dólmã mostrando as
meninas.
- Ah, legal. – Ficou sem graça.
- Vocês vão entrar? – Falava no plural, mas não tirava os olhos de
Sophia. – Eu ofereço a vocês a especialidade do chef.
- E qual é a especialidade do chef? – Ela respondeu curiosa.
- Só entrando pra saber. – Sophia estava encantada pelo sorriso daquele
homem misterioso. – Aproveita que é por conta da casa, pela batida.
- Mas fui eu que arranhei você. – Ela riu. – Nesse caso eu devia pagar
em dobro.
- Eu ofereço o jantar. – Insistiu.
- E você por um acaso é o dono disse ai? – Apontou para o restaurante.
– Pra ficar oferecendo comida de graça para os outros...
- Meu pai é, ele tem uma rede. Tem aqui em sampa, tem no Rio de Janeiro
que é o mais famoso até então. Tem em alagoas também, mas eu confesso que não
quis ir pra lá não. – Eles caminhavam rumo a entrada do restaurante. Liz
completamente esquecida, segurando vela pra dois desconhecidos. – Como eu me
formei a pouco tempo, meu pai não quis me deixar ficar de frente do restaurante
do Rio que é o maior de todos, tem pouco mais de um ano que estou aqui.
- Você costuma contar toda sua vida pra estranhas que batem no seu
carro? – Ele gargalhou.
- Dependendo da estranha... –
Ele sorriu e terminou o conquistar o coração de Sophia. – Eu vou indo, a
cozinha deve estar uma loucura. – Piscou e saiu dali, sem nem ao menos saber o
nome dela.
- Eu não acredito que você estava flertando com aquele cara. – Liz
falou achando graça da situação. – Dois sem vergonha.
- Liz! – Sophia repreendeu rindo. – Ele é bem bonito e simpático. – Ela
ficou vermelha e arrancou mais risos da amiga.
- Ele também gostou de você. – Afirmou. – Certeza que vai te chamar pra
sair assim que você ligar pra ele pra conversar sobre a “pintura” – Fez aspas
com o dedo.
- Deu pra perceber que foi uma desculpa? – Estava sem graça, não queria
parecer descarada. – Não era pra ser tão cara de pau.
- Não é que foi descarada, mas olha esse lugar? – Gesticulou em volta.
– Ele tem dinheiro pra jogar o Audi fora e comprar outro se não quiser pintar.
– As duas riram. – Tenho certeza que ele adorou a sua desculpa.
Elas ficaram conversando e avisaram ao garçom que queriam a
especialidade do chef. Quando ele chegou, trouxe os pratos. Sophia sorriu ao
não identificar o que era, mas o cheiro era maravilhoso.
- O que é? – Perguntou ao garçom.
- canard à l’orange. – Disse
forçando um leve sotaque francês que as meninas logo perceberam ser
extremamente falso. Ele percebeu a cara de confusão das meninas e rolou os
olhos. – É pato com laranja. – As duas sorriram por entender. – Aproveitem o
jantar. – Pediu licença após encher as taças de vinho.
- Pato com laranja... – Sophia provou um pedaço. – Isso é realmente
gostoso.
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