- O cartão dele ainda está
guardado na sua gaveta lá em São Paulo. – Branca sorriu. – Você chegou em casa
tão empolgada contando do rapaz que tinha conhecido por acaso, seus olhos
brilhavam.
- Foi amor à primeira
vista. – Ela sorriu, seus olhos já estavam cheios de lagrimas, eram lembranças
ótimas pra se ter. – Tão clichê falar isso.
- Eu concordo que é clichê,
mas é uma verdade. – Sophia se sentou e encarou a mãe, não entendia o motivo
dela estar falando aquelas coisas. – Eu nunca vi você tão empolgada ao falar de
alguém, nunca vi você louca daquele jeito, decidida a ponto de largar a gente
lá e vir pra cá atrás dele.
- Mãe, porque está falando
isso tudo? – Ergueu uma sobrancelha. – Eu não estou entendendo.
- Vocês se amam, qualquer
um percebe de longe. – Ajeitou uma mecha do cabeço da filha atrás da orelha. –
Você errou, reconheceu e pediu perdão. Por mais machucado que o Micael esteja,
ele ama você, não consegue ficar longe. A confiança foi destruída, mas quando
ela for restaurada, nada mais separa vocês dois.
- Eu pensei que a senhora
não gostasse dele. – Sophia riu. – Sempre reclamou.
- Não reclamo dele porque
acho ele ruim pra você. – Ela rolou os olhos. – Reclamo porque ele fez você
querer vir pra cá e me abandonar lá sozinha. Vocês tinham meses de namoro, era
um total estranho pra mim.
- Ah, mãe. – Ela abraçou. –
Você sabe que eu te amo e que não foi assim que as coisas aconteceram. A gente
se mudou pra Sampa e eu já tinha quase quinze anos, eu deixei meus amigos aqui
tudo por causa da oferta de emprego do papai.
- Mas a gente era feliz lá,
e eu não queria que você viesse.
- Você sempre me tratou
como uma criancinha indefesa. – Se afastou um pouco da mãe, agora ela tinha os
olhos marejados. – Sempre me prendeu tanto em casa.
- Eu não queria que nada de
mal te acontecesse. – Fez um bico e Sophia riu. – Ai apareceu ele do nada,
vocês não demoraram a começar a namorar e do nada você estava de malas prontas
pro Rio de Janeiro.
- Mas também não foi assim
do nada! – Se defendeu. – Eu falei com a Lua, pedi ajuda pra arranjar um
emprego, um apartamento pra morar, eu não vim pra cá as custas de ninguém. Só
que eu já amava tanto Micael, eu não quis ficar longe dele.
- Eu já sei de tudo isso. –
Ela fungou. – Já sei que é um rapaz bom, responsável, tem o emprego dele, fala
francês. – Ela fez uma careta. – Não que isso importe de alguma coisa.
- Você é muito debochada! –
Ela continuou rindo. – Ele fala francês porque estudou na França, foi obrigado
a aprender.
- Foi você que disse pra
mim que ele fala francês como se fosse uma puta qualidade. – As duas agora
riam. – Quando na verdade só mostra que é mais um privilegiado da sociedade.
- Você é tão implicante,
dona Branca.
- Eu estou dizendo que
gosto dele apesar dele ter trazido você pra cá, e você me chama de implicante.
– Fez drama. – Toma seu leitinho, toma filha. – Entregou na mão dela o copo que
estava no criado mudo até agora. – Já nem está mais quente. Você precisa
descansar, as coisas com o Micael vão se ajeitar.
- Ele deve estar com tanta
raiva agora. – Deu uma golada no achocolatado. – Parece que toda vez que a
gente vai se acertar algo dá errado.
- São coisas do destino. –
Forçou um sorriso. – E eu quero que vocês se acertem logo, não vou ficar
sossegada com você aqui no Rio sem ninguém pra cuidar de você. – Sophia rolou
os olhos.
- Já vou completar vinte e
quatro anos, se tem algo que eu não preciso, é uma babá, mãe.
- Eu sei, filhinha. – Tirou
o copo vazio da mão da filha. – Agora deita aqui que a mamãe vai fazer um
cafuné pra você parar de pensar em coisas que te deixam tristes!
Naquele momentos Sophia não
reclamou da mãe trata-la como criança, o que mais queria no momento era um colo
mesmo, um carinho. Alguém que pudesse dizer pra ela que ficaria tudo bem, e
isso, sua mãe faz como ninguém.
Cinco dias se passaram e
nada de Sophia receber um telefonema de Micael. Teve vontade de ligar muitas
vezes, mas tinha medo de se decepcionar novamente. Sua mãe estava sendo uma
bela companhia naqueles dias, mas ela já estava com a passagem comprada
para aquela tarde. Tinha sido requisitada pelo meu pai pra fazer pose num jantar.
Ela disse a Sophia que voltaria no dia seguinte, se assim a loira quisesse, mas
ela preferiu deixar a mãe em paz em São Paulo, já que logo, logo voltaria ao
trabalho e retomaria sua vida.
Sophia falava com Lua e Mel
todos os dias, trocava mensagens e informava como estava. Também tinha o grupo
dos seis, mas esse tinha se tornado um deserto desde o término de Sophia e
Micael. Recentemente Micael tinha sido adicionado novamente, mas não mudou
muita coisa no clima do grupo.
As meninas passavam
informações a Sophia sobre o moreno, aparentemente estava bem, mantinha sua
rotina normal e perguntava por ela a Arthur, quase o tempo todo, mas falar com
ela que era bom, nada. Talvez estivesse precisando de um tempo pra pensar sobre
tudo e no fundo, ela entendia, só não conseguia deixar de ficar agoniada.
Estava deitada na cama,
sozinha no apartamento desde que sua mãe tinha ido embora, horas antes. Não
avisou a ninguém que estava sozinha, quis esse momento de privacidade. Ficar
com seus pensamentos e lembranças era bom pra ela.
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