Nova Chance - Capítulo 48

As paredes brancas do quarto pareciam assustadoras. O barulho das máquinas apitando era chato, mas reconfortante. A figura da moça deitada na cama era desoladora pra quem conhecia aquela menina cheia de vida que ela era. Os cabelos loiros cheios de nós. A pele branca cheia de hematomas.
A boca da mesma cor da pele, pálida. Um tubo levando oxigênio até ela. Cortes se confundiam com os hematomas. Ainda era possível ver um pouco de sangue espalhado pelo corpo. Algo naquele quarto não tinha vida. E aquelas máquinas apitando não mudariam isso. A mão esquerda estava caída ao seu lado, com um aparelho em um dos dedos. A direita estava por sobre a barriga. Os olhos fechados temiam pelo momento que seriam abertos. O medo pairava no ar. A dor era devastadora. Ninguém que conhecia a menina seria capaz de entrar naquele quarto e não chorar. Mas ainda existia algo que a prendia naquele mundo. Algo que dava esperança a ela. Algo que não fazia seu coração parar de bater. Do lado de fora, várias pessoas intercediam pela vida dela. Antônia, Jorge, Ana, Renato, Chay, Arthur, Lua e até mesmo Mel estavam ali, todos em silêncio. O único sozinho era Micael. A maioria deles tinha os olhos vermelhos em comum. Na cabeça da maioria, milhares de lembranças daquela menina tão amada passavam como um filme. Quando Antônio chegou Renato o olhou, mas não se levantou. Ana, sim. Ela se levantou e abraçou o homem, que acariciou seus cabelos. Todos compartilhavam do mesmo sentimento. Micael era o mais afetado. Sentia culpa. Toda a história deles dois passou por sua cabeça. A primeira vez que a viu, as inúmeras discussões, o primeiro beijo, o pedido de namoro, a primeira noite e todas as outras que se sucederam, o momento que ela contou que estava grávida, a felicidade de ter um filho esmagada depois de vê-la no chão sangrando, desacordada, frágil. Ninguém ali sabia ao certo o que tinha acontecido, a não ser ele. Ele sabia e queria poder esquecer tudo aquilo, mas parecia impossível. As lágrimas voltaram a rolar por seus olhos quando ele sentiu uma mão em seu ombro. Ele se virou e lá estava Antônio. Levantou-se e estendeu a mão para o senhor, mas Antônio o abraçou.
Antônio: - Vai ficar tudo bem com a nossa menina, Micael.
Micael: - Eu espero que sim. Mas não sei se ela continua sendo nossa.
Ele se separou do abraço e olhou Antônio.
Antônio: - Como não?
Micael: - Ela não vai me perdoar. A culpa foi minha.
Antônio: - Foi atropelamento, um acidente. A não ser que você tenha mandado alguém atropelar ela a culpa não é sua.
Micael abaixou a cabeça e suspirou.
Antônio: - Minha filha te ama.
Micael: - Eu a amo mais que tudo na vida.
Antônio: - Eu sei disso, filho. Ela também.
Micael assentiu e Antônio deu um pequeno sorriso, antes de se virar e ir sentar-se um pouco afastado. Depois de tudo, Micael não tinha mas certeza disso. E agora era esperar para ver nomeie tudo isso ia dar.

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