Reviravolta - Capitulo 53

Levei quase que um segundo para processar aquela informação e eu não queria que lagrimas escorressem para demonstrar o quanto eu me importo. Achei que estava fazendo um bom trabalho até que senti uma lagrima quente escorrendo pelo meu rosto e tive ódio de mim. Ele não falava nada, apenas me observava e então eu virei o rosto e finalmente disse alguma coisa.



- Meus Parabéns. - Minha voz estava triste, mas que droga, nem disfarçar eu conseguia.
- Sophia não seja irônica. - E então eu passei a mão no rosto e o encarei.
- Não estou de ironia, te desejo felicidades ué. - Disse fria. - E eu gostei da sua consideração.
- Hã? - Perguntou confuso e eu logo disparei.
- Me tirar de casa no meio da noite só pra me contar em primeira mão. Muito obrigada! - Dessa vez eu debochei.
- Sophia, eu só não queria que você soubesse por outra pessoa e depois ficasse dizendo que eu te enganei. - Se justificava, ele também não parecia feliz.
- Ah nossa, eu não pensaria isso, fique tranquilo. - Me levantei. - Podia ter me dito pelo telefone.
- Senta Soph. - Segurou minha mão - Por favor. - Sua voz era baixa e calma. Reprimindo todos os meus instintos eu me sentei outra vez.
- Diga Micael, seja breve minha filha me espera. - Fui grossa com ele, acho melhor manter certa distancia.
- Não me trate assim! - Ele pediu, seus olhos ardiam no que parecia dor.
- Não tenho outro modo pra tratar um homem que vai se casar daqui a pouco tempo. Alias, quando? - Levantei uma sobrancelha interessada.
- Dia 24 de setembro. - Ele abaixou a cabeça e eu ri, não sei se de tristeza ou de raiva.
- No dia da festa da Alycia, Micael? - Falei um pouco alto.
- Não foi eu que escolhi isso tá bom, alem do mais nem decidimos a data da festa da Alycia. - Ele rebateu, ainda com a voz baixa.
- Mas a data é obvia, primeiro sábado depois do aniversario dela né, se ela faz dia 19... - Nem terminei a frase, se ele quisesse entenderia sozinho. Estava com raiva agora.
- Não foi eu que marquei essa droga de data Sophia! - Ele agora se alterou. - Se dependesse de mim, eu nem tinha marcado nada.
- Então a sua noiva fez de proposito, pra fazer você escolher. - Acusei, ele negou com a cabeça.
- Manu não faria isso. Afinal, ela nem sabe nada sobre Alycia, eu nem falo com ela sobre. - Ele deu de ombros, o tom da voz agora já voltando ao normal.
- Então tem alguém que fala, isso me parece muita coincidência. - Falei serio e ele riu. - Essa menina quer fazer você escolher Micael, será que não percebe? - Me irritei
- Sophia ela não é assim! - A defendeu - Tá certo que no começo ela não gostou muito de saber que eu tenho uma filha, mas agora ela aceita de boa. - Eu revirei os olhos, como homens em geral são idiotas.
- Deixa de ser imbecil, essa menina é sinistra, toma cuidado com ela. - Baixei o nível total e vi que ele ficou com raiva.
- Sophia, eu conheço a Manuella há cinco anos já. - Falou meio alto e agora eu podia ver raiva em sua expressão. - Convivi com ela mais tempo do que convivi com você. Eu a conheço muito bem.
- Depois que tudo acontecer, você me diz se eu estava errada. - Me levantei novamente. - Estarei bem aqui olhando pra te dizer, eu avisei. - Sai da lanchonete sem olhar pra trás e quando cheguei do lado de fora ele parou a minha frente.
- Não faz assim, não te trouxe aqui para brigarmos. - Seu rosto já estava suave de novo.
- Não brigamos, apenas conversamos. - Dei de ombros. - Dei um conselho de amiga e você não quer seguir.
- Até porquê não faz sentido né Sophia, quer que eu termine com ela porque ela marcou a data do casamento pra mesma data da festa da Alycia. - Ele sorriu de canto, e aquela pitada de deboche me irritou ao extremo de novo.
- Não quero que termine com ela, estava tentando te avisar que essa menina é mais esperta que você, mas você é uma anta e não me escuta, vai lá e seja feliz então. - Virei as costas e sai andando pro nada.
- Isso parece ciumes. - Ele gritou pra mim, que já estava um pouco distante, procurando um táxi.
- Pense o que quiser. - Respondi sem me virar.

De repente senti todo um déjà vu com o que aconteceu. Um rapaz passou por mim e levou a minha bolsa, quando eu me virei ele já estava correndo a toda velocidade eu fiquei sem reação. Vi Micael correndo atrás do garoto e eu fui atrás, logico que muito atrás, eu estava de salto. Quando finalmente me aproximei, o menino estava caído no chão e Micael estava com a minha bolsa na mão e um sorriso no rosto. Meu foco foi todo para o menino.

- O que você fez com ele? - Gritei pra Micael, o menino estava desacordado.
- Só dei  um soco, ele precisava parar. - Ele sorriu satisfeito. Caminhei até ele, peguei minha bolsa e achei meu celular. Precisava ligar pra ambulância. Depois que liguei, ele ainda me olhava como se eu fosse esquisita. - O que você tem heim? Esse moleque tentou te roubar! - Ele falou e eu levantei uma sobrancelha pra ele, que na hora calou a boca. Vi o menino se remexer e abrir os olhos, então me agachei perto dele.
- Você está bem? - Perguntei e ele então olhou pra mim. Ele era um rapaz branco com cabelo castanho crespo, tinha olhos negros e um corpo franzino, estava com calças jeans e um tenis bem surrado, sua camisa tinha alguns furos, ele fedia um pouco. Parecia ter no máximo uns 12 anos.
- O que aconteceu? - Ele perguntou e botou a mão na cabeça, logo se via que sentia dor.
- Você me roubou, e o valentão ali te deu um soco. - Ele tentou se levantar assustado, mas Micael o parou.
- Calma ai garoto! - Falou enquanto o segurava, o menino estava muito assustado.
- Não me entrega pra policia não tio, acabei de fugir de lá. - Falou rápido enquanto mais uma vez tentava fugir.
- Não vamos fazer isso, você vai para o hospital, ver se a porrada que levou não afetou nada. Quer ligar pra alguém? - Eu falei, um pouco apreensiva.
- Não tenho ninguém, minha mãe morreu há alguns meses. Minha familia toda acha que a culpa foi minha. - Ele se acalmou, agora parecia triste. Eu olhei o rosto de Micael e o vi se identificar com o garoto.
- Sua culpa? - Perguntei, um pouco espantada com a situação. - Você é só uma criança.
- Eu estava com ela em casa, um  cara entrou e a matou, na minha frente, ele fez eu segurar a faca logo depois. Mas não fui eu. - Ele estava a ponto de chorar.
- Olha calma, não vamos te levar pra policia. - Micael falou, estava logicamente com algum afeto por aquele garoto. - Como é seu nome?
- João. - Ele falou e olhou para baixo.
- Você vai para o hospital, amanhã vou te encontrar lá. - Micael falou e eu sorri. - A ambulância chegou. - Nós nos viramos e vimos o carro parar ao nosso lado, o menino assentiu.

Micael falou com os paramédicos e com o João e então quando eles se foram, voltou para meu lado e nós voltamos caminhando para onde estava o carro dele.

- Você gosta de ajudar delinquentes né? - Ele levantou uma sobrancelha e riu pra mim.
- Só quando sei que eles tem jeito. - Eu ri pra ele.
- Olha que senhorita de bom coração... - Ele parou no meio da frase. - Se ele fosse mais velho já ia se interessar né?
- Ai Micael, que piada de mau gosto. - Eu dei de ombos. - Eu não sou assim.
- Ah claro que não! - Ele riu - Me diga como conheceu o pai da sua filha? - Ele continuou rindo e me fez rir também.
- O pai da minha filha foi um caso isolado. - Falei rindo - Eu não tenho culpa se entre todas as pessoas da rua as pessoas escolhem me roubar. - Falei olhando pra ele, ainda sorrindo.
- Você é um alvo fácil. Só anda por ai dando mole. Se bem me lembro, naquela noite você estava com o celular na mão, quem anda por ai com o celular na mão? - Ele olhou pra mim debochando.
- Eu sabia que viria um lindo homem pra me roubar, foi tudo premeditado. - Nós estávamos conversando como antes daquela conversa toda, era tão bom conversar com ele, nós nos dávamos bem.
- Lindo com certeza. - Ele ajeitou a gola da camisa. - Você foi a melhor escolha que eu já fiz sabia?
- Sabia, graças a mim você saiu dessa vida, e agora tá ai com familia, emprego e tudo que antes não tinha.
- Você me deu minha filha, Sophia. - Ele parou em frente ao carro e ficou me olhando - É a mulher mais importante que existe pra mim.
- Isso até sua esposa te dar um filho. - Falei e entrei no carro, ele entrou em seguida e deu partida. Não conversamos mais até chegar na minha casa, ele então disse quando eu fui sair.
- Até depois disso. - Piscou um olho e então eu sorri e sai do carro indo em direção á minha casa, por que as coisas tinham que ser tão difíceis?

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