Reviravolta - Capitulo 70

Fiquei sem reação depois que ele disse aquilo. Eu acho que estava com uma cara de idiota porque ele riu quando me olhou. Eu não estava raciocinando muito bem para dar uma resposta.
- Ei, você está bem? – Ele perguntou ainda rindo.

- Estou, desculpa. – Sacudi a cabeça e recuperei o foco. – Você me pegou desprevenida.
- Tudo bem, depois conversamos então. – Ele ficou em silêncio, olhando Alycia dormir em seu colo. – Acha que devemos contar a verdade para ela? – Levantou o olhar, parecia ter medo.
- Eu prometi contar amanhã, você sabe. – Falei e dei de ombros.
- É que as coisas estão tão boas desse jeito. – Apertou um pouco mais ela. – Estou com medo dela me rejeitar se souber a verdade. – Tinha um traço de dor em seu rosto.
- Ela não vai fazer isso, ela adora você. – Coloquei minha mão em seu ombro e sorri encorajadora. – Ela fica toda feliz te chamando de papai, mesmo que por uma brincadeira.
- Não sei, criança sempre surpreende. Ela pode ficar feliz ou pode odiar, se souber que sou o pai dela.
- Você estava tão corajoso no começo, e agora que estamos a um dia você está aí hesitando.
- É eu sei. – Ela focou no nada, parecia ter mil pensamentos em sua cabeça.
- Não se preocupe. Você conquistou ela, ela não vai ter raiva de você. – Sorri para ele, tirei minha mão do ombro e fiz carinho na cabeça, quando passei a mão em seu rosto ele beijou minha mão, me arrancando outro sorriso.
Me abaixei ao lado da poltrona e fiquei na altura de seu rosto. Enquanto fazia carinho nela, com a outra mão eu comecei a fazer cafuné na minha filha. Nós não estávamos falando nada, apenas sentíamos aquele momento em família que nunca tivemos. Quando meu olhar encontrou com o de Micael eu não segurei a vontade que eu estava de dar um beijo nele. Me aproximei e dei um beijo calmo, com saudades.
Nos separamos quando ouvimos a voz de Alycia, que estava nos observando.
- Por que vocês estão se beijando? – Ela perguntou e nós a olhamos, completamente sem graça.
- Coisa de adulto filha. – Eu respondi, provavelmente muito vermelha. Ela alternava olhares entre nós dois, visivelmente confusa.
- Vocês são namorados? – Ela levantou a sobrancelha e me fez rir, Micael também riu.
- Você ia achar estranho se a gente fosse? – Micael perguntou antes que eu dissesse que não. Ela pareceu pensar.
- Ia. – Respondeu por fim, e eu vi a expressão de Micael ficar triste. – Mas ia ser legal, eu gosto de você, papai. – Ela completou com um sorriso e dando um abraço em Micael que o deixou surpreso.
- Eu amo você pequena. – Ele respondeu e ela se afastou olhando a agulha ainda em seu braço.
- Isso não pode tirar? – Ela resmungou.
- Só quando acabar aquilo ali ó. – Ele apontou para bolsa de soro lá no alto. – Já está quase acabando.
- Está nada. – Fez dengo.  – Falta um montão ainda.
- Estou vendo que a mocinha já está melhor né. Está faladeira de novo. – Ela sorriu e eu toquei a ponta do seu nariz. – Continue assim.
- Eu quero ir embora. – Ela deitou de novo no peito dele.
- Já nós vamos. – Respondi. E me levantei. – Vou ligar para o Diego e dizer que ela já está bem. – Vi Micael fazendo uma careta. – Nem me olha feio.
- Esse cara vai sempre estar entre a gente. – Falou de cara amarrada.
- Não posso afasta-lo. Alycia gosta dele. – Dei de ombros e me afastei. Busquei seu número em meus contatos e liguei. Ele me atendeu no segundo toque.
- Alô Sophia, Alycia está bem? – Perguntou preocupado.
- Está sim, agora ela está no soro. – Falei calmamente e ouvi ele respirar fundo.
- Aquele cara já foi embora? – Ele perguntou com a voz pesada.
- Aquele cara, está sentado com ela na cadeira do soro, teve que tomar primeiro para deixar ela com coragem. – Eu falei com orgulho, olhei para onde estavam os dois, eles estavam rindo de alguma coisa. – Micael tem sido um verdadeiro pai, já que você nem ficou para descobrir o que a menina tinha. – Falei com raiva.
- Sophia, a menina nem quer mais saber de mim. – Ele falou com pesar.
- E sabe por quê? – Ele ficou mudo então continuei. – Porque ao invés de dar amor e atenção, você estava mais preocupado em brigar comigo e com o Micael. Começou a me evitar e com isso quase não via ela. Você mudou muito e acabou perdendo espaço para ele.
- Você sabe porque eu fiz isso. – Ele falou culpado.
- Qualquer motivo que você use é besteira. Não pode simplesmente abandonar a menina porque não quer me ver. – Falei ainda brava.
- Eu vou reconquistar a minha filha. – Ele falou determinado.

- Boa sorte. – Falei e desliguei o telefone. Voltei para perto deles, observei e o soro estava acabando já. Hora de ir para casa. 

11 comentários: