Reviravolta - Capitulo 76

Quando voltei pra sala a atenção dos dois era voltada pra mim. Eles tinham olhos curiosos, mas não falavam nada. Me sentei também quieta e novamente estávamos assistindo aquele desenho. Alycia deitou a cabeça no meu colo e os pés no colo de Micael, que passou o braço por trás de mim e falou baixinho.

- O que foi? - Ele perguntou, parecia mais preocupado do que curioso. Eu neguei com a cabeça, mas ele não desistiu. - Ei, fala comigo!
- Não foi nada, apenas mais uma briga. - Dei de ombros, eu falei completamente ciente de que minha filha prestava atenção naquela conversa, mesmo que baixo.
-Te conheço menina, tem alguma coisa te incomodando. - Depositou um beijo em minha testa.
- Acho que a Larissa e o Diego estão namorando, ficando, sei lá do que eles chamam. - Desabafei e Alycia olhou pra mim sorrindo.
- Isso é legal. - Ela falou contente. - Você e o papai, o papai e a dindinha. - Ela pareceu pensar. - Ih, ficou estranho. - Riu.
- Alycia, foca no seu desenho. - Eu estava um pouco sem paciência.
- Tá bom. - Ela murchou na hora, Micael me olhava de lado.
- Que foi? - Perguntei ainda levemente irritada.
- Vamos conversar. - Ele disse e tirou os pés de Alycia do colo dele, depois se levantou. - Filha, a gente já volta.
- Vão me deixar sozinha? - Ela fez biquinho.
- É rápido, vou falar com a sua mãe e a gente vem te fazer companhia de novo. - Sorriu e tocou a ponta de seu nariz. Ela se sentou então eu me levantei, Micael andou de braços cruzados até a cozinha, onde parou de frente pra mim e ficou mudo.
- O que foi? - Eu disse rolando os olhos e cruzando os braços também.
- Sophia, você está com ciume do seu ex? - Perguntou sério.
- Não viaja Micael. - Falei fria. - Não tem a ver com ciume.
- Tem a ver com o que então? - Falou ainda com raiva.
- Traição. - Ele riu debochado.
- Isso não é ciume? Ah, pelo amor de Deus, Sophia. - Jogou os braços para o alto em sinal de indignação, logo depois cruzou novamente.
- Traição da parte da Larissa, Micael. - Ele pareceu prestar atenção. - Há muito tempo atrás, minha amiga roubou meu noivo, nunca perdoei. Larissa estar com o Diego agora é quase a mesma situação. - Falei temendo que acontecesse, eu gostava muito dela.
- Ele é seu ex. - Falou como se eu fosse maluca. - Ela não está traindo você. Deixa eles serem felizes.
- Se ela esteve de olho nele todos esses anos? - Falei insegura. E ele rolou os olhos.
- Mesmo se ela já gostava dele, ela nunca demonstrou, sempre te respeitou enquanto ele estava com você. - Ele parou de falar, parecia se lembrar de algo. - Se ela te respeitou significa que é uma amiga de verdade. - Respirei fundo, não sabia mais o que responder. Ele se aproximou e me abraçou. - Não deixe que isso estrague sua amizade com ela. Alycia é afilhada dela, se vocês brigarem ela vai se afastar, não vai ser bom pra nossa menina.
- Tudo bem. - Me dei por vencida, mas ainda conversaria com ela. - Mas ela merece uns bons tapas e talvez eu os dê. - Falei e ele riu. - Ri não heim, estou falando sério.
- Quero ver se apanhar. - Debochou ainda me abraçando.
- Ih, meu amor eu sou mulher, nasci de uma mulher e no dia em que eu tiver medo de outra mulher significa que eu deixei de ser uma. - Falei a frase o mais convincente que eu pude e então ele caiu na guargalhada.
- Tudo bem marrentinha, Vamos voltar pra sala que nossa filhota espera com aquele desenho incrível. - Rolamos os olhos em sincronia. - Mas antes... - Ele colocou seus lábios nos meus começando um beijo incrível, mas não deixamos continuar, paramos logo e voltamos pra sala.
Passamos o resto do dia ali, agora já tínhamos convencido Alycia a botar num canal da tv e estávamos vendo desenhos aleatórios. Eu já tinha feito um lanche com eles ali mesmo em casa e já estava escuro. Ouvimos o barulho de passos e quando vimos, quem entrava era meu pai, sua cara não era das melhores.
- Vovô! - Alycia correu pra dar um abraço, ele retribuiu, mas não era seu entusiasmo de sempre.
- Oi baixinha. Deixa o vovô tomar banho e ir trabalhar um pouco. - Ele falou e ela se soltou.
- Vai voltar de novo? - Ela perguntou espantada. - Já é noite.
- Vou trabalhar daqui mesmo, filha. - Falou subindo as escadas e Alycia voltou para o nosso lado.
- Ele tá cada dia mais estranho. - Ela falou e eu e Micael nos entreolhamos.
- O que você acha que é? - Perguntei a ele.
- Não sei, já disse que não trabalho mais pra ele. - Ele respondeu sem expressão.
- Mas você imagina. - Eu rebati e o vi suspirar.
- Imagino que ele deve ter colocado a empresa na mão de um contador de merda, que deve estar fazendo tudo errado. - Ele deu de ombros.
- Fala com ele? - Eu respirei fundo antes de pedir, ele parecia não acreditar.
- Sophia, é seu pai lembra? - Ele me olhou espantado. - O mesmo homem que me fez aquelas propostas terríveis, me demitiu, bateu em você... Já se esqueceu disso tudo? Você não diz que odeia ele?
- Mas apesar dos pesares, é meu pai. - Dei de ombros, ele franziu a testa.
- Papai, ajuda o vovô se você puder. - Olhamos para baixo e Alycia estava fazendo sua magica...

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