Inevitável - Capítulo 148

Eu estava com cinco meses já, um dia fui numa consulta e estava tudo bem, na outra consulta eu não sei como nem porque, mas a medica já não conseguia ouvir o coração do meu bebê.
Depois disso foi desespero atrás de desespero, dor atrásde dor. Tive que tomar uns remédios pra expelir o feto, tive que fazer raspagem, mas a dor física não chegava aos pés da dor da perda do meu neném. Tinha até algumas pecinhas de roupas aqui em casa que eu dei pra Luiza quando ela descobriu que estava gravida de Daniel.

Desde então eu fiquei realmente mais apegada a Felipe, era como se ele estivesse aqui representando o meu bebê perdido, eu precisava de algo pra me apoiar, pra conseguir superar toda aquela dor. Anos depois quando eu descobri estar gravidanovamente, torci para que fosse um menino e quando eu descobri que não era, me desanimei.

Maiara nasceu e eu acabei tendo depressão pós parto, não queria nem pegar ela no colo, nem amamentava minha menina. Foi tão forte que Micael teve muito trabalho pra cuidar de nós duas e é por isso também que a minha filha caçula é tãoapegada a Felipe.

Logico que amo minha filha, mas eu não conseguia na época. Eu olhava pra ela e imaginava como meu filho teria sido. Desde que finalmente consegui sair daquela situação eu tinha criado uma barreira no assunto e meu filho perdido era um tabu que ninguém comentava como, até Micael falar agora...

Eu levantei da cama com um suspiro e passei a mão no rosto, foi quando percebi que estava chorando. Funguei e sai do quarto, indo pro quarto de Emily. Não bati na porta e ela se assustou. Estava deitada na cama jogando no celular.

- Ei, não custa bater. – Reclamou e voltou a se concentrar no joguinho.

- Precisamos conversar. – Eu disse hesitante e ela nem me olhou.

- Não obrigada, se começarmos uma conversa corre o risco de eu ficar mais um mês de castigo. – Debochou e eu suspirei.

- Deixa de ser respondona. – Eu fui até a cama e me sentei, obrigando ela a se sentar também.

- Não estou te respondendo ué, você não aceita minha opinião, mãe. Não tem como ter uma conversa entre a gente.

- Você tem nove anos...

- Quase dez. – Me interrompeu e eu rolei os olhos.

- Ok, quase dez. Não tem que ser respondona assim. – Respirei fundo. – Mas eu vim pra te pedir desculpas. – Ela me olhou surpresa.

- Desculpas?

- É, não devia ter falado do jeito que falei com você, não devia ter te colocado de castigo.

- Meu pai fez um milagre ai foi?

- Seu pai é um chato. – Eu ri. – Mas eu não quero a mocinha me respondendo desse jeito nunca mais, ou vai ficar sem dentes. – Ela botou a mão na boca, bancando a desesperada. – Vamos lá pra baixo.

- Sem castigo?

- Até a próxima gracinha, dona Emily. Não ache que vai ser sempre fácil assim. – Me levantei e estendi a mão pra ela. – Eu amo você, filha.

- Eu também te amo, mãe. – Me deu um abraço e nós descemos de mãos dadas. Micael estava no sofá com Maiara, olhou pra trás e sorriu ao nos ver descendo. Nós nos sentamos junto com eles.

- O que estamos assistindo? – Perguntei a Micael e ele sorriu antes de responder.

- Frozen. – Rolou os olhos. – Decima vez já. – Eu ri e olhei Maiara, que encarava o pai de cara feia.

- Não pode falar mal da Frozen papai. – Ela o repreendeu e ele deu um beijo em sua testa.

- Não falei meu amor, eu amo a Elsa. – Ele me fez rir com o tom falso em sua voz.

- Elsa não, papai, Frozen. – Ela o corrigiu e eu vi Emily rolando os olhos.

- É a mesma pessoa, pirralha. – Ela disse sem paciência alguma. – Acho que a gente devia ver uma série diferente. Alguma coisa que ninguém viu ainda. Saiu essa semana a segunda temporada de stranger things na netflix.

- Não. – Maiara gritou. – Eu e o papai estávamos aqui primeiro. – Ela mandou língua.

- Parem de brigar pela televisão. – Eu rolei os olhos.

- Vamos terminar de ver o filme da sua irmã e depois a gente vê um episodio da sua série. Ok? – Micael disse, as meninas assentiram e eu sorri pra ele.

- Você é o melhor pai que existe. – Disse em seu ouvido e ele se virou pra me beijar.

- Eca, podiam pelo menos prestar atenção no filme né. – Emily disse com a cara emburrada.

- OK, sua chata. Vamos ver esse filme maravilhoso que meu bebê escolheu. – Eu mandei um beijo pra Maiara e me aconcheguei no peito de Micael. Tendo aquele momento em família eu quase me esqueci de todos os problemas, quase...



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