Inevitável - Capítulo 142

- É claro que você nasceu. – Aquela conversa aos berros tinha chamado atenção das meninas que olhavam assustadas de cima da escada. – Não fala besteira, Felipe.


- Você não pode me proibir de ver meus amigos, Micael. Afinal, você não é meu pai. – Sophia conseguiu sentir o quanto as palavras de Felipe tinham machucado o marido. Ele estava sem reação e ela sabia que não sairia coisa boa dali.

- Eu não sou seu pai? – Ele gritou. – Eu não sou seu pai? – As veias saltavam no pescoço de Micael devido a raiva. – Foi eu que estava na sala de parto quando você nasceu, eu estava contigo quando caiu a primeira vez ou quando disse papai. Eu te ensinei a andar de bicicleta, eu te vesti e te dei o que comer por quinze anos, Felipe. Você é menor de idade, seu sobrenome é Borges então eu posso sim dizer com quem você deve andar.

- Meu sobrenome é Borges porque você foi enganado. Você sabe que meu pai é o Lucas. – Dava pra ver o quão irritado Micael e Felipe estavam.

- Então vai morar com eles. – O tom de Micael era baixo, porem ainda dava pra sentir a raiva. – Eu quero ver ele te tratar como eu te trato. Vai morar com a sua mãe e seu pai.

- Micael, você tem noção do que está falando? – Sophia chorava desesperada. – É o Felipe, não pode ser assim tão duro com ele.

- Deixa tia, ele deve ter me deserdado assim como eu deserdei ele. – Virou as costas e subiu para o quarto dele.

- Micael, você tem que ser mais maleável com ele, é seu filho. – Sophia disse enquanto abraçava o marido.

- Sophia, ele nem me considera mais como pai dele. – Ela sabia que o lado emocional do marido já abalado, ficaria pior depois dessa discussão.

- Ele está com raiva, só isso. Mas ele é seu filho. – Sentiu as mãos do marido apertarem ainda mais sua cintura.

- Felipe vai embora? – Ouviram a doce voz de sua filha mais velha vindo de trás.

- Pensei ter mandado vocês irem para o quarto. – Disse com a voz grossa, e as meninas se encolheram.

- Ouvimos gritos... – Ela falou com medo.

- Não meninas, ninguém vai embora, foi um mal entendido. – Sophia chegou perto e pegou a mais nova no colo.

- Lipe não vai então? – A menininha mais apegada ao irmão perguntou insegura.

- Não amor, Lipe vai ficar aqui. – Deu um beijo na testa da menina. Micael subiu para o quarto e Sophia ficou na sala com as meninas assistindo a um filme qualquer.

Mais tarde naquela dia, já a noite com as meninas abraçadas e adormecidas no sofá ao lado de Sophia, ela ouviu um barulho. Olhou pra cima e viu Felipe descendo com sua mochila e skate. Desvencilhou-se das meninas a tempo de alcançar o menino á porta.

- Aonde vai, Felipe? – Perguntou temendo a resposta.

- Micael me mandou ir pra casa do meu pai, estou indo. – Deu de ombros.

- Você deveria saber como dói no seu pai que você o chame de Micael. – Ela segurou a mão do jovem rapaz.

- Ele não se importa com o que eu penso, tia, não vou me importar com o que ele pensa também. – Os dois cabeças duras que se amavam tanto e não conseguiam se entender, partiam o coração de Sophia.

- Você sabe que seu pai te ama você sabe o quanto seu pai lutou pra não perder você quando era criança, você acha justo o que tá fazendo com ele?

- Tia, ele me expulsou de casa, então eu estou indo. – Deu um beijo na testa da tia e saiu com sua mochila. Sophia perdeu bastante tempo observando o jovem rapaz subir em seu skate e se afastar pela rua. Até que ela subiu ao quarto, desesperada, chegou lá ofegante e o marido a encarou.

- O que foi que aconteceu? – Perguntou com os olhos arregalados.

- Felipe foi embora pra casa do Lucas. – Micael respirou fundo e desviou o olhar da esposa.

- Escolha dele Sophia. – Deu de ombros e voltou a se deitar.

- Micael, ele só foi porque você mandou o garoto ir. Ele é seu filho, tem quinze anos, está confuso. Micael, ele precisa de você.

- Sophia, só Deus sabe o quanto eu amo aquele garoto, mas se ele quer ir pra casa daquele cara, quero que quebre a cara. Ele só vai aprender com os erros dele, não adianta eu ficar evitando ou tentando evitar as coisas.

- Então você simplesmente vai deixar que ele fique com o Lucas. Sabe que o Lucas não tem nenhuma responsabilidade com ele.

- Então ele vai quebrar a cara, Sophia. Não podemos proteger as crianças de tudo. Eu estava aqui pensando no que fazer em relação a ele e percebi que bater de frente com ele nunca vai ser a melhor opção.

- Ainda não gosto da ideia do meu menininho perdido por ai com esse pessoal. – Ela colocou a mão no peito.

- Nem eu, mas acho que vai ser a melhor opção. – Se levantou e foi abraçar a esposa, ambos precisavam se ajudar nessa hora.

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